TEXTOS QUENTES
004 - IBCI
- Estabilidade Macroeconômica, Política
Monetária e
Taxas de juros no Brasil - Continuação
(5)
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
No quadro brasileiro de 1990 em diante,
embora as taxas de inflação e de juros
tenham caído notavelmente desde 1993, desde
o advento do plano de troca de moedas promovido na
combinação da URV – Unidade Valor
de Referência com o Plano Real, as evidências
mostram de que a volatilidade das taxas de juros anuais
e das taxas de câmbio é elevada.
O controle monetário
aumentou e a emissão para sustentar déficits
públicos reduziu-se. Em compensação,
aumentou a dívida mobiliária interna.
A emissão monetária mais rigorosa e
limitada estancou a inflação, ao passo
que a emissão de títulos da dívida
se fez pela via da elevação das taxas
de juros, para gerar compradores e apropriar a favor
do estado as poupanças privadas livres.
Mediante o uso de reservas
compulsórias sobre os depósitos à
vista e a prazo, e a criação de um dirigismo
que desviou a poupança tradicional, forçando-a
com aplicações em papéis públicos
(NTN, LFT, e afins) a concentrar-se no giro da dívida
pública, o governo trocou a emissão
monetária inflacionária pelo controle
monetário e a expansão da relação
divida / PIB.
Enquanto haja certeza
sobre a capacidade de pagamento do setor público
e giro da dívida, esta situação
poderá ser mantida indefinidamente, mas às
custas de taxas de juros reais elevadas e proibitivas.
A sua conseqüência é a retração
da demanda agregada, logo o crescimento baixo, de
1,5 % verificado em 2001 e 2002, com tendência
de manutenção e tímida recuperação
potencial.
Todos os membros
de uma sociedade querem estabilidade?
Infelizmente,
nem todos os membros de uma comunidade querem estabilidade
e lutam a seu favor.
As correntes do pensamento
e do comportamento humano e social não necessariamente
se afinam, e dada a multidão de interesses
antagônicos existente numa comunidade, enquanto
uns remam a favor da maré, outros remam contra.
Desta forma, a instabilidade
e a atuação entre aqueles que são
da situação e os oposicionistas, são
naturais e inerentes a toda construção
sócio – político – econômica.
Mediante a política,
com o uso de acordos e negociações,
é importante que se consiga amenizar o quadro
de instabilidades que surgem num país. Resta
a saber, contudo, se é fácil alcançar
acordos, ou se a sociedade estaria por demais esgarçada,
não propiciando acordos e envolvimentos que
aumentam a capacitação e a realização
de um jogo cooperativo.
No caso do Brasil, eterna
terra de contrastes, o jogo político se faz
de modo multipartidário. Existem registrados
e atuantes 32 partidos políticos. Como nenhum
deles possui a maioria absoluta no Congresso, surgem
as alianças.
As alianças podem
durar tempos bem variáveis. Nada assegura que
elas sejam mantidas, posto que são corroídas
por interesses divergentes. Ademais, dada a multidão
de partidos, os resultados práticos de seus
trabalhos, que se evidenciam na legislação,
podem perder a lógica inicial contida nas propostas
e políticas de uma corrente, que podem ser
boas per-se, e tornar-se duvidoso e ilógico.
Ilógico, incoerente
e prejudicial à comunidade – em parte
ou no todo – por mais que se vise o bem estar
geral, porque as correntes alteram certos princípios,
para acomodar interesses em geral e nessa hora o que
originalmente era correto cede espaço à
ambigüidade, à falha, à parcialidade,
e afins.
Como a legislação
afeta a economia, esta pode ser, segundo o que se
decida e aplique, benéfica ou prejudicial.
Conclusão:
existe estabilidade macroeconômica?
Não,
definitivamente, não existe sinal claro de
estabilidade macroeconômica no Brasil.
Existem pequenos arremedos
marginais de estabilidade, dados por esforços
tópicos focados em certas áreas de interesse
político e de governo. É neste molde
que se incute o combate inflacionário.
Qualquer que seja o
eixo analítico da macro-variável que
se analise no Brasil, a resposta é uníssona:
intrinsecamente e sistêmicamente, todas as macrovariáveis
estão distantes do espaço dos equilíbrios
integrados, alinhados e balanceados que vem a ser
desejável.
O crescimento é
medíocre e descendente quanto à taxa
de variação nas últimas quatro
décadas, entre 1970 e 2003, portanto, esta
na direção e com a velocidade equivocada
e indesejável.
A inflação
caiu de modo espetacular, de 1993 em diante, representando
um sucesso de política, embora parcial. Entretanto,
suas variações anuais mostram uma instabilidade
elevada; e elas contaminam as taxas de juros, inibindo
o consumo e o investimento. Ademais, seu nível,
seja de 25 % ao ano, como em 2002, medido pelo IGP-M,
seja de 10 %, como desejado em 2003 ou 2004, é
alto demais face às taxas de 0,5 % a 3 % dos
países desenvolvidos.
A distribuição
de renda permanece muito injusta e gera conseqüências
medonhas. Se em 1980 os 10 % mais ricos abocanhavam
52 % da renda nacional, em 1998 eles agarravam 47
% desta renda. Portanto, o número de pobres
é elevado, chegando a 53,1 milhões de
cidadãos em 1997, ou praticamente um terço
da população.
Para sair deste macro-problema,
é preciso pensar, planejar e agir em grande
escala. Projetos parciais, tímidos, tópicos,
genéricos, como os realizados nos últimos
21 anos, da maioridade da supercrise à brasileira,
não tem chances de acertar uma nação
que vergou sob as forças das ações
mal planejadas e empreendidas.
O Brasil precisa alinhar
seus objetivos e acordar ao fato de que mais valem
os custos e perdas de curto e médio prazo de
ajustes verdadeiramente feitos para dar estabilidade
de longo prazo ao país, que a manutenção
de ganhos para uma mini casta de privilegiados, enquanto
a maioria fenece a olhos vistos.
Ademais, no contexto
da globalização a integração
privilegia as sociedades e economias mais evoluídas
e tecnologicamente mais adiantadas. As nações
líderes podem escolher seletivamente parceiros
periféricos para finalidades específicas,
deixando os demais numa deriva evolutiva negativa
de longo prazo.
O mais triste exemplo
desta involução é o continente
africano, impotente para retomar o crescimento sustentado
e que é um eixo de interesse de exploração
focalizado em matérias primas, que, uma vez
explorado e exaurido, é abandonado sem dó
à própria sorte.
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