TEXTOS QUENTES
004 - IBCI
- Estabilidade Macroeconômica, Política
Monetária e
Taxas de juros no Brasil - Continuação
(4)
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
No plano internacional, a falta de apropriação
de métodos de negociação e de
evolução de programas de parceria, a
mentalidade de acreditar que pode ser um país
auto-suficiente de longa distância, a falta
de recursos baratos para produzir competitivamente;
e um comportamento instável de suprimento de
mercadorias, que oscilou segundo as atividades econômicas
incentivadas pelos planos macroeconômicos mais
recentes e díspares no conteúdo e nas
conseqüências (Sarney; Feijão com
Arroz; Verão; Collor I; Collor II; da URV;
Real; e outros), limitou o Brasil à posição
de pequeno provedor de demandas estrangeiras.
Pode haver exceções
à regra, como quanto à produção
de cítricos; minério e tarugos de ferro;
cassiterita e alumínio; calçados e vestimentas;
madeira e pedras; jóias; soja e café;
e outros bens exportados in-natura ou semi-elaborados.
Todavia, o fato é que o Brasil parou de incorporar
tecnologias próprias e internacionais que ofereçam
uma diversificação sustentada para as
suas exportações de longo prazo.
Com juros elevados e impostos asfixiantes
num mundo que teve crescimento global entre 1992 /
2001, especialmente referenciado na expansão
dos EUA, o Brasil não apenas não aproveitou
o momento de expansão mundial – também
crivado por severas crises, como a dos países
asiáticos, a da Rússia, a do México
e a da Argentina - mas atrasou sua inserção
na sociedade e na economia globalizada.
Este atraso vem gerando crises cambiais
e de reserva internacional. Após um autêntico
período de sobrevalorização cambial,
entre 1994 / 1999, o Brasil descobriu que a volatilidade
cambial aparece ao menor gesto de permitir-se um regime
de taxas cambiais flutuantes. E nem por isso, com
maior efeito-desvalorização cambial,
as exportações se expandem a ponto de
promoverem uma retomada no crescimento. O que se dirá
do desenvolvimento.
Em 2002, o governo anunciou com estardalhaço
e aparente euforia, como se fosse uma vitória
incontestável, a tomada de um crédito
de US$ 24 bilhões do FMI. A ser usado ou não,
o fato é que quando se vai ao FMI há
problemas de falta de reservas para saldar dívidas
em moeda estrangeira. Os bancos internacionais ficam
atentos à evolução do país,
porque suspeitam de um crescente risco de default.
Portanto, essa absorção
de capital oriundo do FMI para equilibrar o Balanço
de Pagamentos comprova que o Plano Real, muito longe
de estabilizar o país, o deixara em 2002 altamente
vulnerável, e completamente fora de qualquer
eixo verificável de estabilidade macroeconômica,
como propugnou à época a autoridade
econômica.
As exportações brasileiras
estão oscilando entre os US$ 65 e US$ 75 bilhões
neste início de terceiro milênio. As
importações variam entre US$ 55 e 60
bilhões. Estes são valores baixos para
um país que no auge de seu Plano Real, com
o câmbio artificialmente semicongelado, com
o PIB de 825 bilhões, mantinha um coeficiente
de propensão à exportação
próximo dos 8 % e uma propensão à
importação de 7 %.
A recente escalada cambial de 2002,
quando a desvalorização, atiçada
pelos medos políticos de se ver o atual Presidente
Luis Inácio Lula da Silva no poder, alcançou
a cotação de R$ / US$ 3,9 e uma desvalorização
de 52 %, surtiu um efeito favorável às
exportações, pelo impacto em preços
relativos. Um superávit de US$ 15 a US$ 18
pode ser verossímil.
Todavia, é bom ter em mente
que este superávit é, sobretudo um efeito-preço
e não um efeito-competitividade crescente em
cenário internacional, agora adverso.
Em função destes fatos,
pode-se concluir que não há estabilidade
nem de curto, nem de longo prazo, nas contas externas
do Brasil.
A instabilidade decorrente é
estrutural. O Brasil deverá ajustar-se internamente,
para aprender a direcionar competitivamente, sem artifícios
maiores, a sua Balança Comercial. Da mesma
forma, a estrutura da dívida externa, embora
quanto ao montante seja baixa face ao PIB, é
elevada quanto ao volume disponível líquido
de reservas próprias e não pode crescer
com os riscos implicados pelas taxas de juros domésticas
que figuram entre as mais altas do mundo.
Política
Monetária e taxas de juros
A boa política
monetária ocorre quando a emissão de
moeda se iguala à evolução do
produto real, de tal forma que no longo prazo o diferencial
entre a taxa de crescimento real do produto e a taxa
de crescimento da oferta monetária se iguala
a zero.
Nessa hora, não havendo diferenças,
a inflação não surge e é
igual ou muito próxima de zero.
O monetarismo defende o uso dos meios
de controle monetário para que se estabilizem
os preços e não se provoque inflação.
Um bom controle, mediante orçamentos corretos
e aplicados com rigor, sem darem espaço a gastos
imprevistos que estouram as contas, ajuda na disciplina
fiscal e evita o uso equivocado da emissão
monetária.
Déficits públicos resolvidos
através de emissão monetária
provocam a alimentação inflacionária.
E como a inflação é uma das duas
componentes da taxa de juros nominal, seu aparecimento
corresponde à elevação do custo
do capital, à volatilidade instauradora de
riscos e à queda da demanda pela diminuição
do poder aquisitivo.
Uma alta inflação em
geral se faz acompanhar de uma alta taxa real de juros.
Contudo, isto não se sente de imediato, porque
a taxa de participação relativa da taxa
de juros real praticada pode ser menor que aquela
que se pratica num regime inflacionário baixo.
Neste caso, as taxas de inflação não
dissimulam custos reais e eles surgemm com toda a
força.
Desta forma, é essencial que
a política monetária coopere no sentido
de se alcançar uma taxa de juros “baixa”,
que inclua uma taxa de juros real, e que se comporta
com mínimas oscilações dentro
de um corredor natural, cíclico.
Em equilíbrio, a taxa de juros
de equilíbrio não deveria sujeitar-se
a variações marcantes. Sua evolução
seria previsível, dentro de um corredor de
mínimo desvio padrão.
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