TEXTOS QUENTES
004 - IBCI
- Estabilidade Macroeconômica, Política
Monetária e
Taxas de juros no Brasil - Continuação
(2)
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
Um dos problemas que o Brasil enfrenta,
é que ano após ano, ao não se
ajustar integralmente e em áreas nevrálgicas,
como a externa, sua capacidade potencial de crescimento
anual está caindo.
Nos anos 1970, era comum
ambicionar taxas anuais de crescimento entre 7 % e
9 %, isto, em que pese o primeiro e o segundo choques
do petróleo, combinados a juros internacionais
baixos. Nos anos 1980, após o choque dos juros
externos e a moratória de setembro de 1982,
intentava-se crescer à taxa de 6 % a 7 %. Nos
anos 1990, o mote do crescimento desejável
e realizável havia caído para singelos
5 % anuais. E neste início de milênio,
as governanças públicas federais já
reduziram a crista do crescimento do PIB para baixos
4 % ao ano.
Onde vai parar esta assunção
de taxas de crescimento do PIB decrescentes?
Será que não
se está percebendo que a escalada para baixo
destas taxas é a aceitação de
uma perspectiva derrotista, na qual o comportamento
das autoridades passa a ser passivo e reativo?
E é no mínimo
curioso e desalentador constatar que, independente
do governo que se instala no Planalto, há pelo
menos 33 anos seus instrumentos de promoção
do desenvolvimento apontam para o desaquecimento das
taxas e não para o aquecimento agressivo de
nossas disponibilidades de fatores de produção.
No plano intertemporal,
a falta de poupança; o crescente endividamento
público; a elevação desbragada
da carga fiscal; o descumprimento de acordos governamentais
no plano interno e externo; e a defasagem tecnológica,
levam o país, de potencialidades invejáveis
para tornar-se um grande líder de produção
no terceiro milênio, cada vez mais longe da
consolidação das bases do desenvolvimento.
Entre os anos 2000 e
2002, as autoridades governamentais anunciavam profeticamente
taxas de crescimento de 4 % anuais. Elas não
se realizaram. Pior, significam que houve dois tipos
no mínimo de desvio em relação
ao que sucedeu. O desvio nominal, de 4 % menos 1,5%,
que é de 2,5 %. E o desvio relativo, de 2,5%
não realizados sobre os 4 % prometidos e não
cumpridos, que é de inomináveis 63%
!
A magnitude deste erro
é colossal, posto que os empresários
usam as projeções e promessas das autoridades
econômicas em seus planos estratégicos,
projetos de investimento e expansão, contratação
de pessoal e finanças corporativas, entre outros.
Obviamente, ao não
se cumprir o prometido, nem existir um julgamento
sobre o desempenho das autoridades em relação
às metas que elas anunciaram alcançar,
a credibilidade do governo vai sendo minada. Ano após
ano, há um amontoado crescente de desconfianças,
que se traduzem no aumento do risco-país e
na elevação dos retornos exigidos pelos
investidores. Os riscos são grandes demais,
e as taxas de juros, com esta situação,
disparam.
Vale também notar,
que a cada década que passa, por não
resolver seus problemas “intestinais”,
internos, de toda ordem e área, o Brasil vem
crescendo a taxas cada vez menores, logo decrescentes.
Nos anos 1980, a taxa anual média do PIB foi
de 3,6%. E nos anos 1990 essa taxa adernou para míseros
3,2%. Ou seja, ele cresce pouco. E quando cresce,
é em alguns nichos como de agricultura moderna,
informática, e mineração, ficando
a imensa maioria das empresas e das pessoas de fora
da tão desejada evolução econômica.
O que importa, todavia,
não é apenas o crescimento. O aumento
do volume de produção é importante.
Mas é preciso apropriar ao crescimento qualidade,
refinamento, substância, capacidade competitiva
e bem-estar amplo a favor de toda a população.
Logo, é preciso desenvolver-se, e evoluir pró-ativamente.
A longa redução
das taxas de crescimento do Brasil implicou no esmorecimento
da sua capacidade de desenvolvimento.
E embora seja um país
cheio de bens naturais e de energias, uma população
empobrecida é uma população fragilizada,
com o ego para baixo, que troca a esperança
pela agressão, que se educa, contudo menos
do que gostaria, que adia sonhos e ganha em infortúnios,
gerando índices recordes de toda sorte de violências.
Posto que em longo prazo
o que se quer de uma nação é
o desenvolvimento, um esforço grandioso há
de ser empreendido nos próximos anos para que
ele ocorra de fato.
Uma das bases do desenvolvimento
é a capacidade de poupar, de estimular as gerações
a poupar e a investir. Neste sentido, será
dever da autoridade pública respeitar incondicionalmente
a propriedade dos indivíduos, a riqueza por
eles amealhada e abolir qualquer ameaça à
criação de riqueza.
Quem souber fazer riquezas,
deverá ser visto como o cidadão modelo,
porque agrega valor ao país. E não deveria
surgir logo a seguir o Estado arrecadador, vendo nele
uma oportunidade de criar novos impostos e mais impostos.
Um segundo elemento
vital para o desenvolvimento do futuro será
o seu desenho e para isto o Brasil precisa de planejamento
integral. Um fio condutor sistêmico, renovado
continuamente, anunciado em regime permanente e cumprido
à risca, precisa ser elaborado.
Sem um modelo de crescimento
e de desenvolvimento; sem um plano geral de reforma
do Estado e de sua integral renovação;
sem um plano nacional de integração
dos pobres e dos indigentes à sociedade; sem
um plano de estruturação produtiva e
geradora de oportunidades amplas e inovadoras a todos
os brasileiros, permanecerá a sensação
da nave sem rumo que tomou conta do Brasil de 1992
aos dias que correm.
Por estas razões,
o ato de planejar é uma forma de se evitarem
desvios não pretendidos, e de cobrarem-se dos
dirigentes desempenhos condizentes com o grau de confiança
que a nação lhes depositou e oferecerá.
Inflação
e estabilidade de preços
Em relação
à inflação(1), que corresponde
a um aumento contínuo e persistente do nível
de preços, é essencial mantê-la
sem artifícios no menor patamar possível
e sem sobressaltos.
É natural que
haja alguma inflação em qualquer país.
Isto porque as safras nem sempre são iguais
ao que se presumia; alguns desajustes se fizeram na
gestão dos recursos públicos e privados;
e fatores externos geraram inflação
internacional e então acabamos por importá-la
através de mercadorias e de juros, por exemplo.
A esta inflação,
friccional, outros autores denominam de núcleo
ou central, e deve-se minimizar. E isto acontece quando
os sub-sistemas produtivos, econômicos, jurídicos,
comerciais, distributivos, tecnológicos e muitos
outros sub-sistemas se falam, se completam e se complementam,
de forma ajustada e bem afinada, gerando um macro-sistema
ajeitado.
Há muitos tipos
de inflação. E a literatura reflete
isto, com a apresentação de inúmeras
origens inflacionárias. São tantas as
origens e as tipologias de inflação,
que uma certa confusão reina a respeito. Há
inflação de demanda; de custos; de mark-up;
de poder de competidor monopolista e oligopolista;
e de produtividade.
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