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- IBCI - Inflação à brasileira
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
A
inflação é definida como uma
alta consistente e persistente no nível de
preços.
Os
preços podem oscilar, evoluindo com movimentos
para cima e para baixo. Mas o que conta é que
a maior parte dos bens e serviços que compõem
o índice de preços calculado, sinalizará
uma alta dos preços.
No
Brasil, a inflação é endêmica.
Ela sempre existe e é alta.
Não
importa qual seja o período da história
do Brasil que se estude nos séculos XIX, XX
e XXI. A inflação sempre foi alta, indecorosa
e certamente bem maior que a praticada nos países
ricos. Houve curtos e insignificantes anos de deflação
ou de baixa inflação.
Assim,
no Brasil é preciso saber conviver com a inflação.
Ela está institucionalizada. Após alguns
combates pela via da política monetária
mais rigorosa ou de um tempo de contenção
de gastos públicos mais ou menos prolongado,
a inflação reaparece. E em geral, quando
o faz, é com todas as labaredas e pirotecnias
possíveis e imagináveis, ameaçando
tornar-se rapidamente um dragão inflacionário.
Mas,
porque seria preciso conviver com a inflação?
Seria a inflação eterna? Ela é
um mal necessário? No Brasil ela não
pode ser combatida com eficácia?
As
respostas a estas questões são complexas
e profundas. Tampouco se pode afirmar que exista uma
resposta única e abrangente, para um assunto
que atordoa os cidadãos há séculos.
Todo Brasileiro sempre viveu em regime inflacionário.
O problema maior neste assunto, é que a inflação
não prejudica a todos igualmente. Pelo contrário
a inflação pode beneficiar a certos
grupos econômicos e sociais enormemente. Portanto,
ela é um meio escuso, despudorado e sujo de
redistribuição de renda. E um estado
gastador, perdulário, nas mãos erradas,
alimenta a inflação.
Mais
grave, a inflação pode ser evitada mediante
contratos e aplicações que prevêem
mecanismos de correção monetária,
logo, de indexação. Ora, as camadas
mais organizadas e ricas da sociedade sabem onde e
como fazer esses contratos, a seu favor. Enquanto
isso, os 53,1 milhões de brasileiros que segundo
o IPEA eram pobres ou indigentes em 1999, práticamente
iletrados, sem proventos, gastando no essencial (49%
da renda em alimentação), mal sabem
o que é contrato, quanto mais aplicação
ou formação de poupança.
Neste
quadro, a inflação reflete um estado
de coisas do Estado. Há uma demanda social
excedente e seu provimento é insuficiente.
Então, quando a procura é maior que
a oferta, óbviamente os preços sobem.
No
país que possui, segundo os dados do IBGE e
do IPEA, usados em tabulações internacionais
realizadas pelo Banco Mundial, uma das cinco piores
distribuições de renda do mundo, entre
as nações ocidentais, por mais de 25
anos seguidos, a inflação está
institucionalizada. Assim como uma estrutura de Estado
antiquada, não funcional, hipertrofiada, “modernizada”
em partes cosmetológicas, está também
institucionalizada. E é engessada, logo está
sedentarizada.
O
Estado gastador é soberbo em sua dimensão
e para ser sustentado precisa que a sociedade lhe
carreie imensas, crescentes e impossíveis massas
de recursos. Para atender a sociedade, gera, orienta
e executa de fato políticas públicas.
Mas para exercê-las, contrata para si mesmo
uma portentosa massa de servidores, que por melhores
e mais sérios que sejam, com o passar do tempo
envelhecem, encarecem e passam a se apossar literalmente
do Estado.
Sob
a alegação de que redistribuirá
melhor e com mais justiça o recurso que arrecadar,
o Estado se arroga o direito de elevar a carga fiscal
e meta a mão no bolso dos cidadãos e
no caixa das empresas.
Sem
necessariamente produzir mais, ou melhor, pelo Estado
escoam fortunas. E são os tributos do cidadão
que pagam seus gastos, sempre geradores de déficits
elevados.
Ao
arrecadar com cada vez mais gana, mas gastar ainda
mais, o Estado nutre o déficit. E aí,
é capaz de emitir dinheiro, o que por definição
gera mais inflação. Se não emite,
também pode o Erário sugar dinheiro.
E
ele faz isto com apetite insaciável, ao emitir
títulos públicos e gerar uma Dívida
Imobiliária Pública crescente. Em 2002,
ela montou em dezembro a 58% do apático PIB
Brasileiro.
A
emissão de títulos, de circulação
compulsória junto ao Sistema Bancário
e Financeiro, permite que sejam captados recursos
do “mercado”, de tal sorte que eles passam
a escassear. As taxas de juros só podem subir.
E
isto vem ocorrendo sem cessar desde 1990.
O
Brasil tem, como decorrência destes fatos, a
mais alta taxa de juros real do mundo. Uma taxa referencial
SELIC de 26,5 % em Abril e Maio de 2003, que faz com
que os tributos carreados pelo Estado não se
dirijam à realização de mais
e novos projetos sociais e empresariais. São
para pagar os juros da dívida pública,
de um Estado que não consegue ajustar-se e
que assumiu nos anos 1190 inúmeras responsabilidades
assistencialistas e previdenciárias sem ter
capacidade de pagá-las e lastreá-las.
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