TEXTOS QUENTES
014–
IBCI - TAXAS DE JUROS E SPREADS EM BAIXA, MAS DEVAGAR
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
__Uma
boa notícia que se verifica e repete ao longo
do ano de 2006, é a queda consistente verificada
nas taxas de juros médias nominais e no spread
bancário. Isto significa que o custo do dinheiro
está caindo e chega mais barato, logo mais
atraente, nas mãos do tomador, seja ele uma
pessoa, seja ela uma empresa.
__Todavía, após
longos anos de taxas elevadíssimas, é
difícil sentir de um momento para outro o conforto
gerado pela diminuição nas taxas de
juros.
Ademais, de fato, elas chegam menores ao consumidor,
mas a sua redução é menor entre
os que promovem a intermediação financeira,
de que a que ocorre junto ao tomador final.
__Para este, em clima
de pequena atividade econômica e tímida
recuperação salarial, perdura aquela
sensação de que a taxa ainda não
chegou ao patamar ideal, que dê um gostinho
de dinheiro realmente barato.
__Por esta razão,
é bastante difícil explicar para o “comum
dos mortais”, logo para quem não está
enfronhado no dia a dia da alquimia das finanças,
porque se afirma tanto que descem as taxas de juros
apontadas para o mercado financeiro e o tomador final,
posto que de fato este continua pagando taxas que
teimam em manter-se elevadas em termos reais e nominais.
Em agosto de 2005, a taxa SELIC, efetiva referência
do custo do capital no Brasil, alcançou os
19,75 %. E desde essa data, a SELIC iniciou uma longa,
coerente e marcante trajetória de baixa, atingindo
14,75 % em julho de 2006.
__Ou seja, em menos de
um ano, a involução da taxa correspondeu
a 25,32 % de sua base referencial máxima, tornando-se
mais atraente para o tomador de créditos. Isto
equivale a afirmar que a taxa em julho de 2006 era
74,68 % da taxa verificada em agosto de 2005.
__Fruto do sucesso ao
combate inflacionário e da queda na demanda
agregada, esta queda na taxa SELIC, de 5,0 % bruto
no prazo de 10 meses revela que o custo do capital
financeiro de fato dirige-se na direção
certa. Na média, reduziu-se a taxa de juros
em 0,5 % ao mês, persistentemente. Isto é
marcante. Significa que tomar dinheiro é cada
vez menos dispendioso. Mas, porque não é
bem assimilada a queda total percentual na ponta do
tomador?
__Há várias
razões que podem ser atribuídas a esta
situação, sentida especialmente pelo
consumidor pessoa física. Embora ele já
esteja sentindo as vantagens promovidas por uma política
monetária rígida e ortodoxa, que desmontou
a inflação e elevou as taxas de juros
inicialmente entre 2003 / 2004, os ajustes sistêmicos
e financeiros podem demorar e combinam um sem número
de variáveis que interagem complexamente.
__Entre as razões
da morosidade da taxa chegar menor ao consumidor,
citam-se: a existência de um depósito
compulsório elevado sobre depósitos
à vista e a prazo captados pela rede bancária,
o que gera um pequeno volume de crédito livre,
que por ser raro, fica caro; o carreamento das poupanças
compulsoriamente para o financiamento e o giro da
dívida pública; a entrada limitada de
recursos externos na forma de novos investimentos
e financiamentos de longo prazo; a alta carga fiscal
sobre operações financeiras; e o ainda
alto grau de endividamento e de inadimplência
dos consumidores.
__Efetivamente, estes
elementos podem explicar em boa parte porque os spreads
bancários – um diferencial entre as taxas
de captação e de aplicação
– diminuíram bem menos que a taxa SELIC.
É dentro do spread que se incluem as taxas
que cobrem as operações produtivas,
funcionais e transacionais dos bancos, assim como
faz - se a cobertura por perdas originadas por inadimplências
e cargas fiscais crescentes.
__Em setembro de 2005,
os spreads médios anuais no crédito
a pessoas físicas alcançavam os 44,1%,
conforme levantamentos da ANEFAC e do Banco Central
do Brasil, e caíram para 40,6 % em junho de
2006. No prazo de meses, o spread caiu 7,94 %, um
valor edificante e alvissareiro, embora tímido
para cativar levas crescentes de tomadores de recursos.
__Este valor descendente
mostra a existência de uma certa rigidez para
baixo no spread, portanto uma dificuldade estrutural
em concederem-se taxas atraentes na ponta final, do
tomador de empréstimos. Isto apenas encontrará
soluções ao redefinirem-se os valores,
sistemas de produção e gerenciamento
geral de macroestruturas de Estado, posto que é
este o grande operador e absorvedor de créditos
do mercado brasileiro, assim como será preciso
promover impactantes políticas geradoras de
empregos produtivos de renda alta.
__Ao analisarem-se os
spreads médios anuais no crédito a pessoas
jurídicas, que timidamente caíram de
14,1 % em setembro de 2005, para 13,6 % em junho de
2006, o que corresponde a uma diminuição
de taxa tão estreita quanto a largura de um
fio de cabelo, de 0,5 % em 10 meses, registra-se uma
involução de 3,55 %. Esta diminuição
salutar não é maior, porque a economia
arrefeceu-se do segundo trimestre deste ano, para
o terceiro.
__De fato, o PIB –
Produto Interno Bruto, que corresponde à soma
de todos os bens e serviços produzidos no país,
logo é um excelente indicador de formação
e informação sobre a evolução
do valor da riqueza nacional, evoluiu apenas 0,5 %
de abril a junho de 2006.
__Isto significa uma
verdadeira parada e freada na economia, que já
vinha patinando ao fechar o trimestre de janeiro /
março com a medíocre taxa de 1,3 %.
__No caso das empresas,
seu risco elevou-se com a sobrevalorização
cambial, pois sua competitividade de exportação
foi diminuindo e com isso as vendas ao exterior tenderam
a gorar em numerosos casos. Mesmo assim, fruto dos
naturais paradoxos do mundo em que vivemos, com o
aquecimento localizado da demanda externa, preços
internacionais ascendentes como os do petróleo
e do aço puxaram para o olimpo a balança
comercial.
__De janeiro a julho
de 2006, as exportações registraram
recordes históricos – US$ 74,522 bilhões
– e as importações – US$
49,352 bilhões – com a formação
de um superávit acumulado de parrudos US$ 25,170
bilhões.
__Merece atenção
o fato de que 1.153 empresas não prosseguiram
em suas exportações no primeiro semestre,
passando de 14.942 para 13.786 firmas. Isto significa
provávelmente que a cotação do
câmbio reduziu suas margens e gerou um efeito-preço
pouco atraente para gerar vendas no exterior.
__As taxas de juros também
podem manter-se altas porque o sistema bancário
e financeiro se resguarda, se precave, o que é
de bom senso e de seu direito. Cabe – lhe preservar
o patrimônio dos acionistas, dos clientes e
fornecedores, na roda-viva da geração
e intermediação de negócios do
capital.
__Mediante taxas de juros
mais altas, que embutem o risco embutido num negócio,
o credor emblemáticamente manifesta que não
pode liberar créditos ilimitadamente, e que
a partir de certo valor liberado, as taxas devem subir
porque o risco de não – devolução
vai aumentando.
__O mercado conta certamente
com uma grande maioria de bons clientes que são
bons pagadores bancários e financeiros. Estes
mantem as suas contas em dia. Infelizmente, no meio
do ambiente conturbado, também se encontram
os maus tomadores e aqueles que por uma razão
ou outra desequilibam suas finanças e tornam-se
agentes que cedem às facilidades e oportunidades
dadas pelo crédito mais abundante e por um
maior número de modalidades e operações
creditícias.
__Num período
de tempo em que se sinaliza com o barateamento do
crédito, é preciso ser duplamente cuidadoso,
pois a animação e a ebulição
do mercado criam motivações. Aumenta
a adrenalina nas pessoas e no meio da alegria, pode
aparecer um contagiante desejo de tomar mais e mais,
dissociando-se a capacidade real de tomar, da capacidade
real de pagar e reassarcir dívidas.
Deste modo, podem surgir os superendividados ou superinadimplentes,
que por necessidade ou por compulsão perderam
a capacidade de controlar as suas contas e se sentem
ameaçados em sua própria subsistência.
__Nos anos 1960 / 1970,
o professor Ando Modigliani, vencedor de um prêmio
Nobel e bom amigo do Brasil, mostrou e comprovou a
existência da Teoria dos Picos Prévios,
do indivíduo e consumidor. Em sua essência,
o bem humorado mestre mostrou que as pessoas se acostumam
rápidamente e com muita facilidade a viver
melhor, a comer bens superiores e de qualidade e a
gastar mais, quando a sua renda sobe em termos reais
e acima da inflação. Mas essas mesmas
pessoas frequentemente não conseguem mudar
seus hábitos quando sua renda despenca, quando
são demitidas e seus salários desaparecem
ou mesmo que conseguidos noutro empregador, forem
menores que os anteriores.
__Isto quer dizer que
existe uma forte assimetria no comportamento usual
humano em certas comunidades. Para gastar mais e viver
melhor, basta um sinal de renda ascendente. Para travar
os gastos quando a renda cai, é uma dificuldade
e um trauma. Por estas razões, é fundamental
policiar-se e dispor de poupanças pessoais,
para conseguir e saber sair dos momentos mais difíceis
e complexos.
__No Brasil, onde o Estado
é responsável por 55 % do PIB sob a
ótica do dispêndio, e recolhe 39% dos
impostos sobre a mesma massa de produção,
decisões políticas de direcionamento
de recursos marcam indelévelmente a vida das
pessoas e famílias. Ao, no governo trabalhista,
definir-se como prioritário o assistencialismo
às populações de renda baixa,
boa parte dos recursos que no passado se empenhavam
a favor de projetos que mantinham o fluxo de renda
das classes mais apaniguadas, foi distribuido mediante
a bolsa-cidadão, a farmácia popular
e medidas afins a familias numerosas, de baixa renda.
__E isto significou acionar-se
na prática uma das vertentes da Teoria dos
Picos Prévios, com seus impactos de elevação
dos riscos aos outrora mais beneficiados na distribuição
de renda, implicando em mecanismos de defesa naturais,
do crédito a ser liberado e negociado, promovidos
pelo setor financeiro.
- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof.
Istvan Kasznar.
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