TEXTOS QUENTES

013– IBCI - PRODUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA:
PROBLEMA OU FALSO DILEMA?

Por Istvan Kasznar - PhD.  
istvan@ibci.com.br

__A indústria brasileira tem passado por contínuas e profundas transformações ao longo das duas últimas décadas.

Fundamental para dispor-se de uma economia diversificada, complexa e competitiva, ela agrega valor aos produtos e serviços nacionais, ao gerar transformações nos insumos e matérias primas.

__E ela vem se ressentindo aparentemente destas mudanças, especialmente geradas por choques do petróleo; elevadas taxas de juros reais; uma carga fiscal crescente e a abertura ao exterior das relações comerciais, entre outros fatores.

__Entre 1930 e 1980, pontificou no país o Modelo Substitutivo de Importações. Mediante ele, visou-se reforçar a industrialização nacional, criando-se alicerces firmes e nacionalistas à produção local.

__Os benefícios desse modelo foram notáveis, posto que criou-se uma indústria diversificada, com fabricantes que destinaram grande parte de sua produção ao mercado local e assim os brasileiros tiveram o que consumir e de forma variada.

__Com o choque das taxas de juros do setembro negro de 1982, o Brasil mergulhou na crise da moratória e encontrou dificuldades em definir um modelo alternativo de industrialização. Medidas mais bem genéricas, compartimentalizadas, passaram a ser efetivadas, sem que se encontrasse um modelo de industrialização e modernização fabril integrada, propriamente dito, dessa data em diante.

__Em boa parte, é compreensível a não instauração de um modelo industrial, pois ele pode trazer consigo as sensações da limitação, do fecho, do cercamento ou de uma rigidez de conceitos e ações, o que deixa de ser apropriado num regime mundial de mudanças contínuas e de globalização. Neste sentido, a tecnologia externa, dominante, aporta com vigor noutras áreas e obriga a flexibilização de conceitos, fronteiras de negócios e termos comerciais para a transação de bens e serviços.

__Mas, estaria a indústria de fato passando por uma diáspora que a reduz e prejudica como um todo? Seria de fato tão significativo o conjunto de elementos que se abate sobre a indústria, que ela no lugar de crescer, decresce e perde em importância na economia brasileira?

__É esta dupla de indagações que visamos responder, objetiva e sinteticamente.

__Há várias formas de buscar-se respostas à dupla de perguntas que formulamos.

__Certamente, cada forma de abordagem responderá a uma parte do todo, posto que ele sintetiza uma forma de pensar, mas pode deixar em aberto, para a polêmica, áreas menos estudadas.

__Entre as formas de dar uma luz a estes questionamentos, escolhemos o levantamento de índices de evolução, crescimento e variação afeitos à indústria e seus principais subsetores, quando possível de 1981 em diante. E nossa análise prende-se a qüinqüênios, para sentirem-se as citadas evoluções de modo temporal mais marcante, o que se percebe mediante as cinco tabelas anexadas a esta curta pesquisa.

__A indústria em geral cresceu 1,44% ao ano na média, entre 1981 e 2006 (*). Isto é, em 25 anos, que correspondem a um prazo longo, suficiente para conhecer-se o dinamismo de um setor, a área fabril brasileira evoluiu 42,94 %, uma taxa mais bem modesta e de pequena monta.

__Conforme atesta o quadro 1, o índice de base fixa centrado no ano 2.000 como base cem, evoluiu de 70,687 pontos, para modestos 101,040.

__Dividida em duas partes, a indústria conta com o setor extrativo mineral e o de transformação. No primeiro concentra-se a retirada de minérios das jazidas, num país particularmente bem dotado de recursos naturais, pela natureza. No segundo, por obra e esforço do homem, aprimora-se e altera-se a constituição das matérias primas, gerando-se um novo produto acabado, transformado.

__Entre 1981 e 2006, a indústria extrativa mineral cresceu 389,65% em 25 anos, ou uma média anual de 6,56%. O crescimento do setor no mundo foi de 3,14% ao ano, logo isto revela que a indústria brasileira foi bem dinâmica, ativa, participante e assumiu um papel de liderança e de ponta. Certamente, entre os minérios que geraram este excelente desempenho, figuram o ferro, a bauxita geradora de alumínio, a cassiterita geradora de estanho, e o petróleo.

__A meta de crescer 6% ao ano, para o PIB brasileiro, foi aventada freqüentemente nas décadas de 1980 e 1990. Isto porque essa taxa asseguraria uma evolução firme da renda per-capita e daria uma sensação de enriquecimento, para a população como um todo.

__Deste ponto de vista específico, pode-se afirmar que a indústria extrativa mineral brasileira é muito bem sucedida, gera produto e renda e move-se na direção de contribuir com firmeza a favor do desenvolvimento econômico. Pena é que, por suas características intrínsecas, essa indústria seja capital intensiva e tecnologicamente concentradora de capitais, como decorrência, gera relativamente poucos empregos.

__O maior cotista e participante da indústria, o setor de transformação, cresceu relativamente pouco. Conforme mostra o quadro 1, os índices dessa indústria, segundo o tipo, oscilam entre 48,305 e 134,81 pontos. Esse é o caso da indústria de bens de consumo duráveis, que evoluiu 4,19% anuais.

__Ou seja, ao longo deste último quarto de século, os brasileiros trataram de comprar carros, geladeiras e fogões. Articularam-se para aparelhar suas moradias e o fizeram num ritmo anual substancioso.

__O que foi francamente mal é a indústria de bens de capital, que cresceu à taxa de 0,66%. E este dado é de fato grave, pois este é o setor gerador de investimentos, o propulsor do investimento e logo a máquina motriz do desenvolvimento.

__Há vários fatores que podem explicar esta situação anêmica, de triste morbidez do setor, muito embora nenhum deles justifique a situação à qual se chegou. Entre esses fatores, pode-se aventar: a abertura ao exterior a partir de 1.990 reduziu as alíquotas de importação dos equipamentos e facilitou a entrada de bens de capital do exterior; os preços externos dos equipamentos sendo menores lá fora geraram a importação e o desaquecimento interno do setor; a competitividade e a produtividade tecnológica bem superior dos equipamentos externos levaram à sua compra e importação maciças; os mecanismos de financiamento de longo prazo e as taxas reais internas de juros abortaram a vontade empresarial de bem investir no país; e a inflação elevada dos anos 1980 até 1994 gerou uma propensão natural a adiarem-se investimentos.

__Sintomático do não crescimento interno e da baixa renda da população no período estudado é a mínima taxa de crescimento anual da indústria de bens de consumo não duráveis: 0,76%. Isto revela que a capacidade interna de absorção de produtos foi pífia, redundando em baixos investimentos no setor e sem alimentar, por falta de expansão, a indústria de bens de capital.

__Outra forma de verificar-se a efetiva dinâmica industrial pode ser oferecida pela análise da evolução dos indicadores industriais na forma de sua produção física. Isto é, analisar índices evolutivos quantum revela o aumento ou a queda nas quantidades produzidas, o que se associa com demanda e capacidade de oferta local e internacional.

__No quadro 2, apresenta-se por gêneros industriais a evolução do período 1995 / 2005. Nessa década, o melhor desempenho médio anual foi da indústria de celulose, papel e produtos de papel, ou 3,97%. O Brasil, país equatorial e tropical por excelência, conta com alta capacidade geradora de fotossíntese; possui terras amplas e relativamente baratas; dispõe de fertilizantes a custo baixo e sua mão de obra rural é relativamente barata. Isto permitiu que a indústria de papel se firmasse e a commodity conquistasse literalmente o mundo.

__Desempenho sofrível sucedeu com as indústrias têxtil, com taxa de menos 1,22% anual e de bebidas com menos 0,46%. Em que pese a matéria prima barata como o algodão brasileiro, boa parte da endividada indústria de tecidos fechou suas portas e não conseguiu competir com os produtores estrangeiros, as fibras sintéticas e as malhas oriundas da Ásia, notadamente da China.

__Muito bom desempenho é dado pela produção de máquinas agrícolas, que cresceu à média anual de 6,52%, praticamente dobrando de tamanho em 11 anos. Este é um indício vigoroso de que de fato o setor agrícola, primário, equipou-se, reforçou-se em tecnologia e portanto aparelhou-se para agir competitivamente. Eis porque seus índices de crescimento tem sido os maiores e freqüentemente assegura-se que é o PIB agrícola que, participando aproximadamente em 18% do PIB – Produto Interno bruto, puxa este para patamares mais elevados.

__Contudo, dependente que é dos regimes climáticos e pluviais, o setor agrícola é arriscado e por isso cíclico. Conforme mostram os indicadores do quadro 5, a agropecuária brasileira pode apresentar boas taxas anuais de crescimento, como as de 1995, de 4% e 2004, de 5,29%, e outras negativas, como ocorreu no fatídico ano do malogrado Plano Collor de 1990, quando a taxa foi de menos 2,76%.

__A produção siderúrgica brasileira, que conta com o ferro mais puro do mundo, o que lhe confere competitividade natural, evoluiu a taxas médias anuais próximas às do Brasil na década de 1995 / 2005, de 2,61% , como foi o caso do aço bruto e tangente às taxas mundiais, de 3,18%, como se manifestou nos setores de ferro gusa, evolução de 3,1% e laminados de aço, com 3,49%.

__O que realmente foi e vai bem e representa um marco excepcional da moderna indústria brasileira, é o setor petrolífero. Dependente do famoso ouro negro em 1.974 em 78% do consumo interno, a partir daquele ano o Brasil empreendeu um esforço significativo, que resultou em sua autonomia e auto-sustentabilidade nesse particular.

__Num momento no qual os Estados Unidos da América se confessam mediante o seu Presidente Bush “viciados em petróleo” e mergulhados numa guerra inglória no grande supridor de petróleo que é o Iraque; em que a guerra do oriente Médio toma feições complexas e novas para Israel, que se vê face ao Hezbollah sustentado pelo Irã; e em que a tendência da maioria dos países é o aumento da dependência de petróleo, o Brasil acerta-se e direciona-se a favor de uma preciosa autonomia.

__Isto significa que choques do petróleo externos, que elevam o preço do barril em Rotterdam e faziam disparar a inflação no Brasil, sangrando suas reservas internacionais, são e serão nos próximos anos menos danosas à economia brasileira. Porque o petróleo de Campos, industrializado, gera um escudo que defende o país. E essa industrialização petrolífera ocorreu à firme taxa média anual de 9,22%, um autêntico recorde mundial para países emergentes.

__Saltar de 699 mil barris para 1.688 mil de 1995 para 2005 é realmente um feito a ser ressaltado e festejado. Demonstra a vitalidade bem focada, desta indústria brasileira, conforme o quadro 4 explicita.
Infelizmente, a produção de cimento estancou, e evoluiu à taxa de 1,03%, o que pode sinalizar sua substituição pelo cimento estrangeiro e a paralisia da vital indústria da construção civil.

__Crescimento confortável foi dado pela indústria de embalagens, que tudo abraça, ao gerar uma pesagem que ultrapassou em 2.005 a marca de 2.156 mil toneladas. O crescimento de 4,77% mostra-se firme.


__Portanto, haja vista o anteriormente analisado, pode-se afirmar que a indústria está em crise e perde-se em firmeza?

__Os indicadores mostram que no plano geral, a indústria está em franca retomada seletiva. Isto significa que não é de bom alvitre generalizar. Existem diferenças intra-setoriais marcantes e elas fazem parte da dinâmica mutante de economias em transformação. A demanda muda, os mercados mudam, logo a produção e seus sistemas de suprimento também se alteram.

__No agregado, conforme revela o quadro 5, a indústria saiu do fundo do poço de 1995, um ano de ajuste estrutural, no qual com o Plano Real em seu 2o ano consolidou-se a expulsão da inflação radical, à taxa de crescimento de 1,91%, para crescer 4,81% em 2.000 e 6,18% em 2.004.

__As evidencias sugerem que a indústria está modernizando-se e assumirá crescente importância no PIB brasileiro. Sua produtividade crescerá, após um longo período, entre 1981 – 2003, aproximadamente, de reposicionamento e revigoramento de suas bases produtivas e tecnológicas.

__No plano específico, evoluem confortavelmente as indústrias extrativa mineral com louvores para a do petróleo; de bens de consumo duráveis; de papel e celulose; de máquinas agrícolas; a automobilística e de embalagens. E merecem uma revisão com o estabelecimento de políticas específicas, para seu revigoramento, as de bens de capital; bens de consumo não duráveis; metalúrgica; têxtil; de bebidas; e de cimento, mormente, entre outras.


- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof. Istvan Kasznar.
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