TEXTOS QUENTES
010–
IBCI - A POLITICA MONETARIA DO TRIÊNIO
2003 / 2005
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
__
Certamente, uma das ações mais polêmicas
e bastante debatidas nos últimos anos, empreendidas
pelo governo trabalhista, reside em sua política
monetária e em seus efeitos sobre a economia.
__Os críticos
observam que o país de fato sofreu com uma
restrição monetária inédita,
entre 2003 e 2005, que puxou as taxas de juros a níveis
dignos de recordes mundiais, algo de pouco auspicioso.
E detonam a defesa dessa contração ao
afirmarem que colheram-se taxas reais de crescimento
pífias, de 0,55% em 2003; 4,94% em 2004 e 2,53%
em 2005. E deste modo, a taxa de desemprego de mão
de obra manteve-se alta, em 12,32%; 9,6%; e 8,3%,
respectivamente nos anos citados.
__Os defensores da política
monetária que foi adotada, afirmam que era
preciso ser duro e objetivo. Controlar a moeda ofertada
era um imperativo do momento. E ponderam que a inflação
medida pelo IGP-M em 2002 montara a vergonhosos 25,31%;
que a taxa real de evolução do PIB fora
de ridículos 1,92% e que o país quebrara,
fazendo com que no apagar das luzes o governo anterior
forçasse um acordo com o FMI, para tomar US$
30 bilhões.
__Estes dados evidenciariam
ao governo sindicalista que sua herança econômica
era sumamente pesada. Afinal de contas, a inflação
de 25,31% era uma prova de instabilidade cabal e de
frouxidão monetária. E o ato de negociar
com o FMI comprovava que o país estava quebrado,
falido, na bancarrota, posto que suas reservas internacionais
líquidas de US$ 16,339 bilhões mostravam
a falha na política de comércio exterior
e na política cambial.
Triste quadro para um país que no auge dos
efeitos do ousado Plano Real, efetivo combatente bem
sucedido da inflação brasileira, alcançara
US$ 60 bilhões em reservas líquidas
ajustadas em 1996, embora com a ajuda de uma crescente
valorização cambial.
__Seja como for, passados
três anos difíceis de reajuste macroeconômico,
pode-se sentir que a política econômica
do governo teve impactos profundos e notáveis
sobre a inflação, a formação
de reservas e o crescimento do produto. Os dados indicavam
uma inflação de 1,15% medida pelo IGP-DI
/ FGV em fevereiro de 2006; de 1,45% pelo IGP-M /
FGV; e de 5,51% pelo IPCA – IBGE.
__Ou seja, verifica-se
uma inflação de primeiro mundo no Brasil
em 2006, segundo os dados sérios e independentes
da Fundação Getúlio Vargas. Enquanto
isso, os dados da instituição governamental,
o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística revelam um índice bem maior,
pelo segundo ano consecutivo – em 2005 o IPCA
fechara em 5,69%, num quadro de queda persistente
dos preços.
__Dada a quase-recessão
obtida no triênio, as exportações
floresceram e geraram uma reserva internacional líquida
ajustada de US$ 50,8 bilhões em Novembro de
2005, demonstrando-se a recuperação
do caixa em divisas e a razão de pagar-se o
devido ao FMI em dezembro do mesmo ano.
__E de que forma se comportaram
as principais macrovariáveis monetárias
e do giro da dívida pública, para gerar-se
este novo quadro macroeconômico.
__Conforme sugerem os
dados, mediante uma criteriosa, rigorosa e severa
disciplina de política monetária, digna
de mentores e agentes de decisão que sabem
usar estratégia. Mesmo nos momentos mais difíceis
e penosos, críticos e afeitos a imensas pressões
da sociedade, que sentiu os efeitos e os sacrifícios
de tais medidas, os de decisão seguiram em
frente e suplantaram as vicissitudes do momento, o
que possibilitou a geração dos resultados
atuais.
__Para uma inflação
em três anos de 23,68% medida pelo IGP-M entre
2003 e 2005, que reflete melhor o que sucede no mercado
financeiro, a inflação do IPCA atingiu
24,3%. Isto significa que os dados inflacionários
no triênio convergem e o diferencial entre eles
é de 0,5%, com o IPCA um pouco mais alto.
Na média, anualmente o IGP-M resultou em 7,34%
e o IPCA em 7,52%. Neste artigo, usa-se o IGP-M como
deflator.
__E isto significa que
após uma inflação de 25,1% em
2002, um patamar médio novo foi conquistado,
de 7,34% na hipótese pessimista, pois a inflação
continua caindo, e ela apenas representa 29,24% daquele
IGP-M de 2002.
Bingo! La nave vá!
__Ou seja, o governo
lulista é vitorioso no trato da inflação,
que sequer representava em dezembro de 2005 um terço
da que foi herdada do governo anterior.
__No citado triênio,
os meios de pagamento cresceram 39,23%, numa média
anual de 11,66%, o que significou uma injeção
real em M1 de 3,73%. Era de se esperar esta alta,
pois a moeda mais estável adquiriu confiabilidade
e os agentes econômicos perceberam que o custo
de oportunidade do capital cairia com o passar do
tempo, dada a inflação baixista.
__O M4, que a rigor oferece
uma concepção mais completa da oferta
monetária, ao incluir em sua formulação
o papel moeda em poder do público, os depósitos
à vista, os depósitos especiais remunerados,
os depósitos de poupança, os títulos
emitidos por instituições depositárias,
as quotas dos fundos de renda fixa, as operações
compromissadas registradas no Selic, e os títulos
públicos de alta liquidez, cresceu nominalmente
62,53% no período, numa média anual
de 17,57%.
__E em comparação
com a inflação anual, o M4 cresceu em
9,22% em termos reais.
__Este fato evidencia
que a compressão da oferta monetária,
mais que representar um ato de geração
de iliquidez radical ao sistema – o que não
ocorreu – foi efetivada mediante duas etapas
claras e complementares, nas quais prevaleceu o bom
senso. Adotou-se um slow-down severo na fase inicial
de combate inflacionário, sem titubeios, a
ponto de vergar a inflação e as expectativas
inflacionárias. E uma vez confirmada, após
bem longo tempo de movimento descencionista, a queda
inflacionária, aceitou-se a retomada da massa
monetária, para admitirem-se taxas módicas
de crescimento.
__Pura ortodoxia monetarista.
Os economistas da Universidade de Chicago, onde o
Professor Milton Friedman aplicou-se esmeradamente
em comprovar que a inflação é
um fenômeno monetário em seu âmago
e essência, no longo prazo, não poderiam
ter feito melhor uso do aparato controlador, num banco
central.
__Em face desta melhor
visibilidade do nível de preços, a vigorosa
queda da inflação permitiu que as pessoas
e os empresários vislumbrassem melhor o futuro.
Os riscos de volatilidade de preços, de taxas
de juros reais e nominais e de evolução
dos fluxos de caixa associados a compras a prazo foram
se esvaindo.
__Deste modo, a população
brasileira e o empresariado em geral ficaram mais
confiantes no futuro e voltaram cautelosa e precavidamente
ao mercado de crédito e de capitais.
__No que diz respeito
à demanda por empréstimos gerais do
sistema financeiro, constatou-se no triênio
uma expansão de 60,38% entre 2003 / 2005, contra
uma inflação de 23,68%. Portanto, para
uma média anual de expansão dos empréstimos
de 17,05%, dada a inflação média
de 7,65%, a evolução real e real dos
empréstimos montou a 8,73%. Este é um
indicador excelente para demonstrar que a queda acentuada
de inflação, mesmo que momentaneamente
obliterada pela alta real das taxas de juros, foi
entendida como permanente, e a alta das taxas de juros
foi vista como temporária. Logo, fez sentido
tomar empréstimos de prazo mais longo, como
continuará fazendo em 2006, posto que as operações
pós-fixadas indicam custos reais cadentes ao
tomador.
__No setor público,
as ligeiras melhorias no controle das contas permitiram
que a variação real anual da dívida
mobiliária interna em poder do público
se tornasse negativa, em 3,05%. Isto é, mesmo
tendo passado de R$ 881 bilhões em dezembro
de 2002 para R$ 1 trilhão em 2005, em termos
reais a dívida contraiu-se e o titulo público
iniciou uma fase reversa à tradicional: tendeu
a ficar mais rarefeito, puxando os aplicadores aos
CDBs e a outras aplicações.
__O rigor fiscal atual
é relativo. Em 2003 o resultado do caixa do
Tesouro foi deficitário em R$ 3,1 bilhões;
seguiu-se em 2004 um superávit de R$ 21,1 bilhões;
e em 2005 os dados novamente acentuavam um déficit
de 7,6 bilhões. Menores que no passado, estes
déficits ainda assim pressionam a demanda por
crédito e criam especulações
sobre novas imposições fiscais aos contribuintes,
exauridos e com poder aquisitivo comprometido.
__Naturalmente, dada
a tendência atual, de queda de inflação
e de taxas reais de juros, o crédito consignado
é uma opção atraente ao tomador,
especialmente quando o seu orçamento é
controlado severamente. E da mesma forma, créditos
para financiamento de veículos; materiais de
construção e na modalidade direta ao
consumidor, também poderão tornar-se
mais e mais atrativos.
__O nó górdio
da expansão do crédito, contudo, está
associado a problemas estruturais na economia, que
por outro lado puxam na direção oposta
da tomada ampla por mais crédito por parte
da população. Entre estes problemas,
merecem atenção: o elevado nível
de desemprego; a baixa remuneração salarial
do trabalhador; a perda de renda da classe média;
a defasagem real entre inflação e índices
de reajuste das aposentadorias, especialmente dos
contribuintes do setor privado; o elevado índice
de comprometimento orçamentário com
créditos já assumidos pelas famílias;
o clima de informalidade econômica; o alto índice
de inadimplência em operações
de crédito; a elevada carga fiscal; a perspectiva
de criação de novos impostos; e elevado
nível de insegurança e de violência;
e a baixa repercussão gerada pela queda das
taxas de juros reais e nominais, sobre as taxas dos
empréstimos à pessoa jurídica
e física em geral.
__Certamente, uma importante
etapa do programa macro de estabilização
foi alcançado entre 2003 e 2005.
__Simultaneamente a esta
etapa, que mantem consigo a busca da continuidade
do rigor monetário e fiscal, a adequação
de soluções aos desafios anteriormente
enumerados representa uma tarefa de ordem maior, para
a boa consecução de políticas
de desenvolvimento sócio-econômicas.
- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof.
Istvan Kasznar.
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