TEXTOS QUENTES
009–
IBCI - PRODUTO, INFLAÇÃO E DESEMPREGO,
NA EVOLUÇÃO DO CICLO DE NEGÓCIOS
DO BRASIL, DOS EUA, DO JAPÃO E DO CHILE.
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
__
A estabilidade macroeconômica de curto e de
longo prazo é um ativo precioso, complexo de
alcançar e de manter e, portanto raro para
um país.
Efetivamente, no curto prazo almeja-se obter e situar
num patamar baixo, mínimo, a taxa de inflação,
conjugando-a simultaneamente a um crescimento que
seja alto mas auto-sustentável, e à
uma formação vigorosa e positiva de
reservas internacionais.
__Conseguir este desempenho
é arte e ofício do mais atilado dos
ministros da Fazenda e de seus auxiliares diretos,
numa atuação que mais lembra os trapezistas
sobre uma fina corda, evoluindo sobre um despenhadeiro.
Isto porque conseguir simultaneamente o adequado e
desejado nível das três macro-variáveis
envolve contradições, paradoxos e movimentos
opostos aos que se visa estabelecer.
__E em seu bojo, cada
variável traz consigo alguns problemas. Senão
vejamos.
__Acelerar o crescimento
do Produto Interno Bruto – PIB é também
acelerar as importações, logo é
um convite à redução potencial
das reservas internacionais e das divisas disponíveis
no Banco Central. Por outro lado, o PIB ativado representa
aceleração da renda e motiva o consumo,
assim como novos investimentos, que, viabilizados,
promovem a contratação de pessoal e
logo aumentam os índices de emprego de pessoas
e de utilização da capacidade instalada.
__Elevar a disponibilidade
de reservas internacionais é positivo, por
gerar maior capacidade de pagamento de posições
passivas mantidas com o exterior. A credibilidade
em face dos credores aumenta e logo tanto fornecedores
quanto financiadores e banqueiros podem estar propensos
em aumentar as transações correntes
de bens e serviços, assim como prolongar linhas
de crédito e esticar seus prazos. Contudo,
se as reservas aumentam porque exporta-se mais e importa-se
menos, dada uma priorização das vendas
ao exterior e a geração de sacrifícios
desmesurados à população do país,
então cria-se uma situação perversa.
Gera-se divisa com a fome e a diáspora do povo
em geral, ou de um segmento da população.
__Aumentar a inflação,
gerando uma alta contínua e persistente no
nível de preços, é piorar a distribuição
de renda, prejudicar a visibilidade dos investimentos,
provocar a corrida à especulação
com ativos financeiros, reduzir a economia real.
__Portanto, o que se
visa de fato é crescimento firme e saudável,
com mínimo desemprego; reservas internacionais
altas e posições de credor mundial,
sem sacrifícios internos desmesurados; e inflação
baixa, sem artifícios.
__O fato é que
este tripé é meio instável, e
é afetado por toda sorte de eventos nacionais
e internacionais. Basta uma safra má; uma disparada
nos preços do petróleo; um ataque terrorista;
uma moratória de país de médio
para grande porte, ou algo afim, que os humores e
as condições de mercado mudam, e o que
antes parecia prometer um futuro de bonança,
agora se assevera um futuro bisonho. Uma variável
puxa a outra, numa correlação encadeada
e em série que não pára e cujos
e efeitos diretos e indiretos admitem uma infinidade
de combinações com forças de
difícil mensurabilidade.
__E assim como há
fatores de choque negativo, num mundo de rápidas
mudanças há choques positivos de alto
impacto, que se misturam aos anteriores. Deste modo,
o progresso tecnológico, que introduz novos
e mais métodos de produção e
produtos e serviços, abaixa seus preços;
e a ciência apresenta novos substitutos a bens
considerados vitais, tal como o petróleo que
vê como opção a agroenergia da
cana, do pinhão manso ou da mamona.
__No meio deste tiroteio,
as autoridades focalizam para as metas de estabilidade
macroeconômica de curto e de longo prazos, utilizando
as políticas monetária, fiscal, cambial,
de preços, salarial, de outros custos de fator,
de reformas e de regulação, entre outras.
Dosagens adequadas e firmes podem levar à estabilidade.
Por outro lado, dosagens frágeis, equivocadas
e afeitas a erros de interpretação da
realidade, podem levar ao agravamento da instabilidade
e ao afastamento da rota ideal.
__Desta forma, há
fatores que conduzem ao bom crescimento e outros que
nos afastam deles.
O crescimento há de ser elevado, firme, regular,
alto e portanto sem maiores vales e volatilidades
na formação de sua macro-curva ascensional.
Políticas que geram o “stop and go”
do Brasil dos anos 1970 a 1990, são condenáveis
e mostram fragilidades.
__O Brasil empreendeu
de fato, entre 1993 e 2006, medidas decisivas, que
podem leva-lo em parte à tão desejada
rota da curva de contrato de longo prazo estabilizada.
O controle monetário, a disciplina fiscal,
a capacitação à exportação
crescente, a parcial reforma do Estado e medidas de
privatização, entre outras, contribuíram
neste sentido.
__Mas, estaria o Brasil
tão bem direcionado economicamente, ultimamente,
que se pode afirmar seu enquadramento definitivo entre
os países de baixo risco, atraentes para investimentos
diretos e gerando um bem-estar inequívoco aos
seus cidadãos?
__Para responder esta
questão, inesgotável na geração
de respostas, buscou-se modesta e limitadamente dar
uma luz que fosse mediante a análise de três
variáveis relevantes e de sua evolução
no período 1995 – 2006, portanto ao longo
de 12 anos. E para efeitos comparativos, estudou-se
a situação correlata das duas maiores
e mais ricas economias mundiais, os EUA e o Japão,
assim como do Tigre da América Latina, o Chile,
tão decantado como país bem sucedido
ao adotar um modelo liberal, propugnado pela Universidade
de Chicago.
__Economias modernas
e abertas ao exterior, as dos EUA, Japão e
Chile servem como que de uma espécie de benchmark,
ou elemento de referência e comparação,
ao Brasil, que tanto deseja voltar a crescer e entrar
no rol dos países desenvolvidos e estabilizados.
Neste sentido, a figura 1 do gráfico da evolução
do PIB desses quatro países, mostra que entre
1995 e 2006, no geral, o corredor gerado pelos pontos
de máximo e de mínimo dos 4 países
foi se estreitando, para oscilarem os PIBs entre 2,2%
e 7,8% ao ano. O Brasil espelha alta volatilidade
em sua expansão, com evoluções
entre 0% e 4,5% do PIB, e uma média medíocre
de 2,2% anuais.
__Já o Japão
cresceu fracamente entre 1995/1998, com retomada clara
entre 1995/2006, ao adotar medidas de saneamento de
seus mercados de crédito, de poupança
e do sistema imobiliário. Os EUA apresentaram
duas fases evolutivas: a do crescimento forte entre
1995 / 2000, com taxas entre 3% e 4,3%, seguida pela
queda de 2001, ano dos ataques terroristas da Al-Quaeda,
que se seguiram de nova e sadia retomada em patamares
de 3,5% a 4% anuais. O Chile revela uma natural descendência
de longo prazo em seu ímpeto de crescimento,
acentuado nos anos 1980 e 1990, muito embora as suas
taxas permaneçam altas entre 2004 e 2006, no
patamar dos 5% a 6% anuais.
__No que diz respeito
à inflação, mostra a figura 2
que os três países referenciais evoluem
com deflações de 7 anos,como o Japão,
até taxas pontilhando num corredor entre os
0% e 5% anuais. O Brasil melhora ano após ano
no combate inflacionário, mas para entrar no
Clube dos disciplinados, terá de apertar ainda
mais os seus cintos e criar reformas fundamentais,
pois sua inflação baila entre os 5%
e os 8% entre 2002/2006.
Os quadros 1, 3, 5 e 7 correlacionam a taxa de crescimento
do PIB com a inflação entre 1995 e 2006.
E os quadros 2, 4, 6 e 8 correlacionam as taxas de
inflação com a taxa de desemprego, conotando
e lembrando a Curva de Phillips.
__Nos quadros, marcou-se
um “quadrado ideal”, que seria uma área
de first – best, ou de melhor situação,
desejada por toda nação. Esta é
uma área de “quadrado do enquadramento
adequado”, ou QEA, que dá ao seu detentor
mais que um status triplo A, segundo as agências
estudiosas de risco, mas sim o direito de serem credoras
e tomadoras de recursos, pois seu índice de
estabilidade macro e de credibilidade é excepcionalmente
elevado. Atuar bem perto deste QEA também é
satisfatório, pois corresponde a um second-best,
num mundo mutante e sujeito a alterações
que nos afastam do QEA ideal.
__O Brasil, conforme
o quadro 1, em 12 anos apresentou 9 anos de baixo
crescimento do PIB e teve 1 ano de inflação
no QEA. Isto é, nos últimos 12 anos,
nunca se enquadrou de fato no QEA ideal. Ainda assim,
foram anos mais virtuosos, os de 1997, 2000, 2004
e 2006. no quadro 2, mostra-se que o desemprego é
um problema grave, pois ele descolou-se do patamar
anual dos 5% a 5,5% ocorridos entre 1995/1997, para
um novo e horroroso nível, de 8% a 12%, entre
2003 e 2006.
__Ou seja, a inflação
brasileira remanesce elevada para padrões mundiais
de excelência, enquanto os índices de
desemprego crescem para patamares que são o
dobro dos EUA ou Japão.
__Nos EUA, a situação
verificada mostra que em 12 anos, eles desfrutaram
plenamente do QEA por 3 anos, e estiveram nas vizinhanças
do paraíso por mais 6 anos, entre 1996/1998
e 2004/2006, especialmente. Conforme atesta o quadro
3, crescer entre 3% e 5% ao ano é comum, enquanto
a inflação mora no corredor dos 1,5%
a 3,5%.
__O déficit público
é elevado e crescente; a poupança para
novos investimentos é baixa; os problemas previdenciários
se adensam. Contudo, a credibilidade do dólar
permanece elevada.
__O desemprego vem afetando
a economia e a sociedade americana. Situa-se numa
faixa de 4% e 6%, com ligeira tendência altista,
para por ora acomodar-se na sub-faixa dos 5% a 6%.
Isto se ilustra no quadro 4.
__O Japão segue
uma disciplina férrea, mediante a qual combate
a inflação em primeiro lugar. Pelas
aparências, não importa que se sacrifique
o crescimento e que este seja até mesmo modesto,
num dos países mais modernos, embora tradicionais,
éticos e socialmente responsáveis do
mundo.
__Pode-se afirmar que
o Japão é mais bem deflacionário
e em 12 anos verificou sua taxa de inflação
dentro do quadrado ideal, QEA. Ou seja, seu índice
de competência no combate inflacionário
é de 100%, algo de extraordinário e
sintomático da seriedade de um povo e de seus
dirigentes diligentes.
A taxa de desemprego japonesa é das menores
do mundo. O trabalho e o trabalhador são respeitados
e recompensados devidamente, com dignidade.
Os quadros 5 e 6 mostram que ocorreram entre 1995
e 2006 3 anos recessivos e 7 anos de deflação.
Ou seja, mais vale crescer pouco e moderadamente,
com preços estabilizados, que fazer exercícios
de indisciplina monetária fiscal. Este é
um importante exemplo a ser seguido e melhor conhecido
por países da América Latina.
Talvez, com a exceção do Chile, que
está de fato fazendo com primor e denodo o
seu dever de casa, com governo socialista e logo de
esquerda.
__Entre 1995 e 1999,
houve um drástico e adicional combate à
inflação remanescente, no Chile, com
sacrifício na evolução do PIB.
E após esses anos, veio a justa e celestial
recompensa: entre 2000 e 2006 o PIB voltou a crescer
com vigor, gerando um céu de brigadeiro e atuando-se
na vizinhança do QEA. Ainda assim, o desemprego
é um problema, pois continua alto e entre taxas
de 8% a 10% anuais. Há uma aparente fixidez
neste patamar, o que envolverá a promoção
de políticas promotoras de produtividade, investimentos
em segmentos modernos, ciência e tecnologia.
__Conclusivamente, o
Brasil melhorou em sua longa marcha em prol da estabilidade
macroeconômica de longo prazo. Possui finalmente
moderadas mas crescentes reservas internacionais e
sua taxa de inflação caiu de níveis
despudorados para a ante-sala das inflações
bem-comportadas, faltando mais um esforço obstinado
para verga-la ao patamar módico e permanente
dos 2,5% a 4% anuais. Entrementes, o crescimento do
PIB permanece pífio, associando-se a um vil
desemprego de patamares socialmente prejudiciais,
que necessita ser revigorado na maior urgência.
__Há formas de
atingir-se o QEA. Se outras nações,
tais como os EUA, o Japão e o Chile, cada qual
com suas características, alcançaram
o ápice e muito bem-estar social, há
evidências de que o Brasil pode empreender o
mesmo macro-objetivo estratégico.
__Chegou a hora do crescimento,
com desenvolvimento auto-sustentável, responsável
e socialmente justo.
__Quadros 1 e 2: Relação
entre crescimento do PIB e inflação
no Brasil
__Quadros 3 e 4: Relação
entre crescimento do PIB e inflação
nos Estados Unidos da América
__Quadros 5 e 6: Relação
entre crescimento do PIB e inflação
no Japão
__Quadros 7 e 8: Relação
entre crescimento do PIB e inflação
no Chile
- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof.
Istvan Kasznar.
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