TEXTOS QUENTES
016–
IBCI - O PAC – PROGRAMA DE ACELERAÇÃO
DO CRESCIMENTO
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
__Desde
dezembro de 2.006 promulga-se com vigor um novo plano
macroeconômico salvacionista, o PAC, ou Programa
de Aceleração do Crescimento.
__Que crescer e desenvolver
a economia é vital, tirando-a do atoleiro e
da modorra em que se meteu nos últimos seis
anos, é ponto de encontro e denominador comum
de todos quantos lidam com a economia brasileira.
__E que mesmo não
alcançando índices saudosos semelhantes
aos dos anos do “milagre brasileiro”,
entre 1968 e 1973, quando a taxa média anual
foi de 9,8%, ou aqueles que caracterizam a China dos
anos 1996 – 2006, de 11,6%, é preciso
reencontrar um ritmo mais enérgico de crescimento,
é anseio de todas as classes econômicas
e sociais.
__As recentes medidas
adotadas pelas autoridades, no sentido de promover-se
este crescimento acelerado, tão decantado e
transmitido aos quatro ventos no primeiro governo
trabalhista, no qual o “espetáculo do
crescimento” virou figura de retórica
e nada mais, dirigem-se com corretude parcial aos
propósitos aventados.
__Mas seriam elas suficientes,
fortes em sua essência, e capazes de tirar uma
economia que marcha à ré há 25
anos, do atoleiro?
- Certamente que não.
__Em 2.006, o país
repetiu o penúltimo lugar no posicionamento
do crescimento econômico na América Latina,
ficando apenas à frente do miserável
Haiti. Enquanto no Brasil o PIB cresceu medíocres
2,6%, a Republica Dominicana cresceu 10,72%; a Venezuela
10,33% e a Argentina 8,50%.
__Em comparação
com os BRICs, o país apossou-se fazem sete
anos seguidos da lanterninha. Especialmente vale perceber
que a China cresceu em 2.006 a taxa de 10,72% e a
Índia alcançou 9,24%.
__Com ou sem o PAC, a
economia poderá crescer um pouco, aquecer-se
timidamente e mostrar estatísticas algo mais
benevolentes que as dos últimos cinco anos.
Sugere-se na visão do governo uma taxa de crescimento
do PIB de 4,5% para 2.007, e de 5% a partir de 2.008,
repetindo-se esta projeção para 2.009
e 2.010. A inflação se estabilizaria
em 4,5% a partir de 2.008. E a taxa básica
de juros, a SELIC, ficaria em 12,2% em 2.007; 11,4%
em 2.008; 10,5% em 2.009 e 10,1% em 2.010.
__Dividido em duas partes
e cinco blocos, o PAC promete medidas econômicas
para o crescimento e infra-estrutura para o desenvolvimento.
O primeiro bloco refere-se a investimentos em infra-estrutura,
especialmente para a produção de energia,
mormente petróleo, onde o governo aposta mais
seus recursos. O segundo bloco é do estímulo
ao crédito e ao financiamento. O terceiro é
referente à melhoria do marco regulatório
e das leis ambientais. O quarto bloco visa a redução
e o aperfeiçoamento tributário. O quinto
bloco propõe medidas fiscais de longo prazo,
para dar consistência macroeconômica e
sustentabilidade ao conjunto proposto de medidas.
__Numa visão sistêmica,
as propostas são adequadas e necessárias.
Mas são insuficientes. Se omitem ao não
combaterem a elefantíase do setor público;
ao manterem as estruturas do Estado; e ao esquecerem
incentivos múltiplos ao sistema empresarial.
__A estrutura de produção
e de geração de riquezas não
terá mudado, nem tampouco a estrutura de gestão
do Estado. E a permanecer a ortodoxa política
monetária, não haverá sensação
de liquidez no mercado e as taxas de juros inibirão
os investimentos.
__Pelo próprio
movimento oscilatório da economia, com o advento
do PAC, que prevê investimentos de R$ 503,9
bilhões até 2.010, as taxas de crescimento
poderão aquecer-se algo mais e quem sabe, o
ímpeto combinado das medidas mudará
a média baixa de crescimento do último
qüinqüênio, situado perto de 3,2%,
para uma média superior, de 4,5% a 5% anuais.
__Estima-se que 86,5%
dos recursos virão das estatais federais e
do setor privado, e o complemento adviria do orçamento
federal. Resta, a saber, se há elementos que
motivam a iniciativa privada, cada vez mais garroteada
por uma carga fiscal sufocante, que em 2.006 chegou
a 39,7% do PIB. E com taxas de juros de 45% ao ano
para o financiamento ao capital de giro, torna-se
difícil criar uma estrutura de capitais que
conte com além dos próprios, com o capital
de terceiros. Um IPCA de 3,91% em 2.007 deixaria exposto
um juro real soberbo, e poucos são os negócios,
os setores econômicos e as forças corporativas
que teriam a capacidade de suplantá-lo.
A média anual proposta de investimentos monta
a R$ 126 bilhões, ou US$ 60 bilhões,
algo próximo a 5,4% do PIB de 2.006 e valor
significativo.
__Então, o que
falta na essência? O que pode representar o
diferencial entre taxas de crescimento tímidas
e irregulares e taxas altas e saudáveis?
__Obviamente, há
vários fatores simultâneos, que tolhem
o desenvolvimento nacional. Alguns, como a elevada
carga fiscal e as taxas de juros são mensuráveis.
Outros, como a corrupção, a violência
urbana, o índice de criminalidade, o favorecimento
de grupos de interesse e a desconfiança em
investir em face da história recente de fatores
geradores de instabilidade envolvem maiores sutilezas
e dificuldades de mensuração.
__Provavelmente, impostos
menores sobre toda a cadeia de produção
e as pessoas físicas, combinados com uma maior
oferta monetária, gerariam algum alívio
econômico e uma retomada. Mas o fôlego
dela seria de curto para mediano, de 5 a 11 meses.
E ademais, o câmbio sobrevalorizado, margeando
a relação de R$ 2,1 para cada US$ 1,00
inibirá as exportações e incentivará
as importações.
__Isto porque também
é cerne da questão da retomada do desenvolvimento
a redefinição, a reestruturação
e a otimização orçamentária
que dê sustentação às atividades
de Estado, no Brasil. Constata-se um crescente esforço
no sentido de expandirem-se as atividades do Estado
– e não que obrigatoriamente devam ser
condenadas, ou entendidas como desnecessárias.
Pelo contrário, pois num país de graves
problemas sociais e péssima distribuição
de renda, o Estado é de fato necessário
como elemento conciliador e gerador de soluções
às imensas demandas sócio-econômicas
da nação. Contudo, o viés ideológico
voltou a inflar as atribuições do Estado
nos últimos anos, para transformá-lo
no colosso das benesses e dos assistencialismos sociais.
__Sente-se no setor privado
o ataque fiscal, com cobranças maciças
e intermináveis de impostos. Quando uma empresa
mal conseguiu recompor-se de um imposto pago, ou de
parcelas a saldar, logo aparecem novas exigências.
E os pagamentos exigidos são imediatos, a fazer
em 24 ou 48 horas, o que nenhum fluxo de caixa prevê.
__Mais recentemente,
aumentou também a fiscalização
trabalhista, compreensível num governo de sindicalistas.
E ela faz sentido, posto que infelizmente no Brasil
ainda perduram práticas escravagistas no campo,
em algumas fazendas do norte e do centro-oeste e há
abusos flagrantes contra o trabalhador. A falta de
carteira assinada; o não pagamento de transporte
e refeições; e as condições
degradadas no ambiente de trabalho hão de ser
naturalmente verificadas e combatidas. Contudo, ao
agirem com insensibilidade, colocando todas as empresas
e empresários no “mesmo saco”,
sejam eles transnacionais ou microempresas, tolhem
a iniciativa e a capacidade produtiva dos pequenos
e dos honestos.
__O sufoco burocrático
pelo qual passam as empresas brasileiras é
notório e crescente. Apenas uma fiscalização
trabalhista de rotina em empresas rurais ou industriais
pode levar à exigência de apresentação
de 29 documentos, entre livros de registros de trabalho;
guias de recolhimento; PPRAs e PCMSOs (programas de
prevenção de riscos ambientais e de
controle médico de saúde ocupacional;
ASOs (atestados de saúde); relações
de acidentes e outros. E para atender o fisco leva-se
dias de trabalho, horas preciosas que o empresário
não tem e que o tiram da atividade produtiva.
__Exige-se do contribuinte
de tudo, em prazo acachapante, como se o mundo girasse
em torno do Estado. E se esquece que a complexidade
sócio-econômica brasileira é crescente.
Nas cidades médias e menores, onde os serviços
são mais raros e são contratados a distância,
é comum a irregularidade do suprimento e a
falência organizacional. A descontinuidade do
provimento e a concorrência entre poucos ofertantes
geram para os clientes situações embaraçosas
e soluções mais caras.
__O Estado não
vê e ignora estas dificuldades. Para ele, o
que conta é cobrar e bater recorde sobre recordes
de arrecadação fiscal. E ao atingir
receitas fenomenais, declama-as como uma vitória
econômica, como se fossem uma demonstração
inequívoca da saúde da economia e um
indicador de competência governamental.
__Certamente, é
preciso que haja rigor e disciplina fiscal. É
preciso cobrar o justo e o devido, para sustentar
um Estado produtivo que faz o bem à população
mediante políticas públicas adequadas.
Contudo, no Brasil as receitas disparam para atenderem
despesas crescentes e sem fim, ordenhando a esquálida
e pálida iniciativa privada destituída
de sua capacidade de crescer e desenvolver-se mais.
__Enquanto o PIB cresceu
à taxa de 2,6% em 2.006, as despesas de custeio
públicas cresceram 6,3% acima da inflação.
Ou seja, o ritmo produtivo não acompanha a
gastança pública na conta de curto prazo.
No lugar de redefinir-se e gastar a fábula
que já abocanha da sociedade, o Estado promove
novas razzias sobre os contribuintes. Quem vive de
dotações fiscais, projetos públicos
e assistencialismo governamental se beneficia, enquanto
que quem tem de viver com os altos riscos da iniciativa
privada é trucidado.
__A carga fiscal já
ultrapassou o limite do bom senso há uma década.
Ela põe o país à deriva. Ela
quebra empresas e empobrece a classe média,
o que é criminoso. E não há grupo
social que consiga frear sua alta, influenciada por
políticos gananciosos e castas públicas
dedicadas ao fortalecimento de suas benesses.
__Portanto, em grande
parte, é o Estado brasileiro atual, contraditório,
paradoxal, indefinido, e sedento de recursos para
satisfazer seus programas de governo, que retira impiedosamente
e desmesuradamente da iniciativa privada os resultados
econômico-financeiros pela via da sangria fiscal,
o epicentro dos fatores redutores de crescimento do
país.
__A carga fiscal brasileira
evoluiu de 24% do PIB em 1994, para 39% em 2.006.
Ou seja, em apenas 12 anos, o Estado apossou-se de
cada 1 real produzido em 2.006, de 40 centavos de
real. E a contrapartida pelas evidências não
tem sido das mais satisfatórias, ao avaliarem-se
os programas nos quais o governo enfia a contribuição
monetária da nação. A Educação
é fraca e os índices de conhecimento
escolar permanecem em níveis medíocres.
A segurança pública nas grandes cidades
está na mão de milícias e o narcotráfico
expande-se a olhos vistos, fazendo dos presídios
seus novos quartéis generais. Inúmeras
estradas perderam sua pavimentação,
receberam uma simbólica capa em 2.006, ano
eleitoral, e impedem a solução otimizada
da logística integrada de transportes, reduzindo
o custo Brasil. E os indicadores de saúde são
estacionários, no transcorrer da asfixia e
paralisia da rede hospitalar, minada por desadministrações,
desvios de material e filas de espera em que os pacientes
morrem nos corredores e são selecionados para
viver na terra ou padecer no paraíso.
__O PAC, para tirar o
Brasil da modorra, é mais um plano, com forte
cunho estatizante. Ele servirá de bandeira
ao governo atual, para mostrar que há esforços
na busca da retomada e do desenvolvimento.
__Contudo, as verdadeiras
e profundas medidas necessárias para equiparar
o país aos membros dos outros países
emergentes, como os BRICS, ainda estão por
vir. Sem modernizações profundas do
aparato de Estado e incentivos poderosos à
iniciativa privada, o crescimento e o desenvolvimento
permanecerão na retórica.
- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof.
Istvan Kasznar.
- Leia mais na Revista Financeiro, da ACREFI.
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