TEXTOS QUENTES
007
– IBCI - O INDICE DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL
E HUMANO NO BRASIL
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
__
Já faz bem um quarto de século que economistas
incomodados com a mania mundial em criar-se ranking
para tudo decidiram depor do seu pódio o Produto
Interno Bruto – PIB, como o melhor indicador
da pujança, da riqueza, da geração
de renda e do bem-estar de uma nação.
__Não se trata
de relegar o PIB ao segundo plano, ou de condena-lo
ao esquecimento. Pelo contrário, trata-se de
“dar a César o que é de César”,
isto é, conceder a uma variável macroeconômica
o seu devido peso. E uma variável apenas não
mede adequadamente o bem-estar, a qualidade de vida,
o progresso comunitário e a evolução
que se espera acontecer numa comunidade.
__Por estas razões,
ao dirigirem-se as análises comparativas entre
países, regiões, unidades estaduais,
municípios e afins para a consideração
do IDH – Indice de Desenvolvimento Humano, elas
o fazem por uma medida de bom senso, de percepção
de que é preciso atrelar mais macro-variáveis
relevantes, umas às outras, e porque mais variáveis
explicam melhor, obviamente, o fenômeno desenvolvimentista
ou progressista que se deseja mensurar. Ou ainda,
passam a sinalizar melhor as faltas, as falhas e as
carências de uma sociedade e de sua economia.
__Em si, o IDH é
um indicador simples. Composto por três variáveis
e combinando-as, não representam a palavra
final para a determinação do grau de
desenvolvimento, o estado de satisfação
e de bem-estar, e a tendência de capacitação
estratégica de longo prazo de uma comunidade.
__Contudo, pelo menos,
o IDH distribui por mais variáveis o peso analítico
que se há de dar, para determinar com maior
acuidade se uma nação desenvolve-se
mesmo, ou não.
__Em sua estrutura, destaca-se
a expectativa de vida, a taxa de alfabetização
e o PIB per-capita de uma população.
E o bom senso prevalece quando se interpretam individual
e conjuntamente estas variáveis: quanto maiores
forem a expectativa de vida, a alfabetização
e a renda por habitante, tanto melhor será,
pois ao menos supostamente vivendo mais tempo ao pessoas
extrairão mais prazer e satisfação
do ato de viver. Elas terão alcançado
idade mais avançada porque o sistema de saúde,
de previdência e de assistência do país
terá sido mais eficiente. Com maior alfabetização,
as rendas das pessoas terão crescido, aumentadas;
o nível geral de informação será
mais alto, permitindo pelo aculturamento que as informações
públicas e privadas se disseminem melhor, em
benefício de todos. E com maior renda per-capita,
o poder comprista sobe, a capacidade de poupar e logo
de investir cresce, e isto movimenta mais a economia
doméstica, deixando as pessoas físicas
mais capacitadas ao prazer de consumir bens e serviços.
__Assim, no lugar de
colocar todos os ovos na mesma cesta, o IDH amplia
a análise das caracterizações
de uma comunidade, utilizando três indicadores
poderosos, que fornecem informações
múltiplas de forma direta – número
de anos; percentual de alfabetizados; renda por cidadão
– e indireta, como o estado sanitário,
a situação da saúde e da educação,
entre outros.
__No caso do PIB, é
comum declarar-se que ele cresce e disso se pavoneiam
as autoridades estabelecidas. Contudo, o PIB no mundo
real pode apresentar características importantes,
que uma única variável não espelha
a contento. Entre estes problemas, encontra-se a da
distribuição de renda. Se o Brasil tem
fazem 25 anos infelizmente uma das 5 piores distribuições
de renda, segundo o Banco mundial, mesmo que ela cresça,
o poder econômico e a riqueza se arqui-concentram
nas mãos e nos bolsos de alguns poucos. Daí
decorre que uma elevação de longo prazo
da renda não espelha necessariamente maior
bem estar da população. É preciso
estudar a renda dos excluídos e dos incluídos,
criando medidas para inserir 100% da população
numa economia liberal, pautada nos preceitos do bem-estar
máximo, seguindo os conceitos do filósofo
e pensador econômico britânico John Stuart
Mill.
__No que diz respeito
ao Brasil, a evolução de seu IDH mostra
uma inequívoca melhora consistente e firme
de longo prazo. Conforme mostra o quadro a seguir,
em 1975 o Brasil registrava um IDH de 0,645 e em 2003
este alcançou 0,792. Estudos recentes projetaram
a taxa de 2005 para 0,801, sustentando esta melhoria.
__Esta melhoria é
alvissareira, geradora de conforto parcial, todavia
no mundo das relatividades, insuficiente. O Brasil
situa-se na 63@ posição pelo IDH, portanto
no pelotão dos países emergentes e socialmente
problemáticos. Ele ainda tem inúmeras
posições a galgar, para alcançar
os padrões suíços, finlandeses
e norte-americanos, que se encontram no campo do máximo
bem-estar.
__E, dado que isoladamente
o PIB coloca o Brasil em 2005 em 13o lugar, pelo tamanho
de sua produção econômica, nada
mais natural que as autoridades queiram proclamar
esta variável. Embora elas se esqueçam
de lembrar que nos idos precoces dos anos 1980, a
posição do Brasil era de 8o lugar pelo
PIB. Fomos superados por numerosas nações.
Espanha,China,Coréia e México crescem
com vigor, dinamismo, bom senso e habilidade sócio-empresarial,
algo de que carecemos numa vizinhança de estado
burocrático, cerceador e ideologizado.
__Ao analisarem-se os
dados do primeiro quadro, observa-se que a expectativa
de vida do brasileiro aumentou sensivelmente, de 59,5
anos em 1970/1975, para 70,3 anos em 2000/2005. Ou
seja, um brasileiro médio, padrão, do
ano 2005, viveu em média 10,8 anos a mais que
seu compatriota de 1975. Em 30 anos, ganhou-se quase
11 anos a mais para viver, o que é extraordinário
e digno de ser festejado.
__A taxa de mortalidade
brasileira está despencando aceleradamente.
Este é um bom indicador a associar com expectativa
de vida, mostra o que sucede com os recém chegados.
Caiu de 95 infantes para cada 1000 nascidos em 1970,
para 33 em 2003. Enquanto conquista e trato que reflete
a melhoria do sistema hospitalar, da saúde
e do trato à maternidade (muito embora no setor
público os hospitais, as internações
e os tratos médicos estejam em calamitoso estado
de petição de miséria), certamente,
esta é uma conquista memorável. O senão
é que a Suécia tem um índice
de 3 falecidos entre 1000 infantes, logo a mortalidade
brasileira ainda é 11 vezes maior que a registrada
no país que é recordista mundial em
saúde infantil.
__A taxa de alfabetização
pulou de 61,2% em 1950, para 88,4% em 2003. E Fernando
Henrique Cardoso encerrara brilhantemente sua presidência
mostrando à nação que em 2002,
98,93% das crianças em idade escolar estavam
de fato nas escolas. Ademais, as taxas de matricula
no ensino fundamental saltaram de 86% em 1990, para
97% em 2003, indicando que a escolarização
é um fato consumado no Brasil. Resta a saber
se as crianças estão de fato aprendendo
e vão à escola pelo aprendizado ou pela
merenda.
__O PIB per-capita do
brasileiro foi de US$ 2.005,00 em 1980. No ano de
2003 atingiu os US$ 7.770,00, bem abaixo dos EUA,
com US$ 36.847,00 aproximadamente. Em que pese a péssima
distribuição de renda, riqueza e capacidade
de poder aquisitivo entre a população,
esta renda crescente também indica uma melhoria
nas bases da formação do consumo e da
poupança.
__Como o IDH permite
a confecção de cálculos, sua
expressão final corresponde a uma “nota”,
que quanto maior, melhor classifica um país.
Uma nota 1 por variável ou de modo combinado,
denota máxima pontuação e situação
excelente. Quando a nota tende a zero, o quadro é
ruim, calamitoso e inspira medidas que promovam o
bem-estar.
__Relativizadas em face
das outras nações, as pontuações
do IDH hão de crescer ao longo do tempo, para
espelharem melhoria. O Brasil alcançou segundo
o Relatório de Desenvolvimento Humano –
2005, publicado pela ONU notas de 0,76 na expectativa
de vida; 0,89 na educação; e 0,73 na
renda per-capita.
__Isto mostra que o ponto
mais fraco do país é a formação,
o valor e a distribuição da renda. Necessita-se
produzir mais, mediante uma política desenvolvimentista,
que aumente o poder aquisitivo do brasileiro.
__Neste particular, a
distribuição de renda é injusta
em pelo menos dois grandes aspectos. Primeiro observe-se
que em 2005 auferiram 47% do PIB os 10% brasileiros
mais ricos, o que prova um estado de concentração
de renda radical e absurdo. Segundo note-se mediante
o segundo quadro que o Brasil, país multirracial
por excelência, apresenta a renda concentrada
nos brancos enquanto os afro-descendentes vivem na
penúria.
__Considerando-se o IDH
dos negros, aqueles que moram no estado de São
Paulo levam um nível de vida parecido ao da
Tailândia, e aqueles em número maciço
que moram na Bahia, no Rio Grande do Norte e em Sergipe
vivem igual aos que sofrem penúrias na Mongólia.
__Por outro lado, os
brancos moradores do Distrito Federal se equiparam
a um nível de vida de República Tcheca;
os cariocas e fluminenses moram tal e qual nossos
irmãos argentinos; os paulistas se equiparam
aos cidadãos da progressista Hungria e os catarinenses
levam um padrão de tigre da América
Latina, similar ao do Chile. Mais ainda, há
locais de altíssimo nível de vida, especialmente
em Mato Grosso e Minas Gerais, que se assemelham ao
rico e petrolífero Kuwait; e Tocantins, assemelhado
à afluente Arábia Saudita.
__O Piauí, unidade
federativa mais pobre do Brasil, não discrimina
a pobreza entre raças. Os pretos vivem similarmente
à pequena, remota e simpática ilha de
São Tomé e Porto Príncipe, enquanto
os brancos lembram o Quirguistão.
__Os afro-descendentes
brasileiros se equiparam no IDH a El Salvador, heróico
país que sofreu profundos problemas sócio
políticos nos últimos decênios.
Enquanto isso, os brancos vivem num padrão
de Costa Rica.
__Por fim, estes quadros
comprovam que uma política social consistente,
de longo prazo, atuante sobre a base da pirâmide
de renda, é fundamental para a redução
das desigualdades reinantes no país. Progresso
e desenvolvimento só se conseguem quando inserem-se
no projeto nacional todos os cidadãos e estes
se sentem deveras donos do seu país, fazendo-o
realmente um país de todos.
Referente a colocação
brasileira em relação aos demais países
classificados pelo Índice de Desenvolvimento
Humano, em ordem crescente; 100 Concentração
Total de Renda e 0 Distribuição perfeita
da Renda.
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano
- Racismo, Pobreza e Violência 2005, ONU e IBGE.
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano
- Racismo, pobreza e violência 2005, ONU
(Em O GLOBO - 19/11/2005)
- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof.
Istvan Kasznar.
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