TEXTOS QUENTES
012–
IBCI - O DILEMA DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
__
As taxas de juros correspondem a uma das mais importantes,
acompanhadas e visadas variáveis macroeconômicas.
Espelham o custo do capital para os tomadores de recursos,
créditos e empréstimos e o retorno do
capital para os credores de recursos que os aplicam.
Em função de seu valor, mudam as atitudes
de consumo e investimento dos agentes econômicos.
E isto implica na mudança do nível e
do valor da produção agregada de uma
nação.
__Conforme a clássica
expressão de Fischer, a taxa de juros compõe-se
de duas variáveis principais, somadas, a saber,
a taxa de inflação e a taxa de juros
real. Esta simples e poderosa expressão permite
que conforme o interesse de cada analista, investidor
ou tomador de créditos, se verifique o comportamento
passado, presente e futuro da taxa de juros e de suas
componentes.
__Taxas passadas de juros
refletem o que sucedeu. Taxas presentes mostram o
que está ocorrendo no momento atual. E taxas
futuras são um exercício de previsão,
na qual fazem-se apostas e assunções
sobre o que se acredita que serão as taxas
em alguma data lá adiante.
__Fundamentalmente e
por bom senso, é de se esperar que as taxas
de juros sejam altas o suficiente para motivar formadores
de poupança a aplicar em depósitos a
prazo e fundos que gerarão rendimentos futuros
atraentes e que ao mesmo tempo essas mesmas taxas
sejam baixas para custarem pouco aos investidores
encorajando-os a formar e manter negócios,
empregos e novos projetos.
__Desta forma, o empenho
da autoridade monetária, em mostrar que pode
acompanhar com credibilidade a evolução
das taxas de juros, mantendo-as controladas em trajetórias
e patamares satisfatórios tanto a favor de
credores, quanto de devedores, é uma função
fundamental e de ordem maior.
__Por meio do banco central,
espera-se que evolua uma política monetária
bem comportada, séria, neutra, de preferência
com pequenas e poucas intervenções,
que assegure uma correta rota no combate à
inflação, na manutenção
de taxas de juros que aceitem potencialmente alguma
taxa de juros reais que seja pouco inibidora de novos
investimentos e maior consumo e na evolução
de taxas de variação cambial e cotação
de câmbio realistas.
__E no caso prático
do Brasil, de que forma evoluem as taxas de juros?
Pode-se afirmar que se está melhorando neste
sentido? Afinal de contas, levantamentos internacionais
afirmam que entre 2003 e 2005 o país praticou
as mais altas taxas de juros reais do mundo.
__E uma situação
destas somente pode atrapalhar e prejudicar o tão
desejado desenvolvimento firme e auto-sustentável
de longo prazo.
__Um recorde mundial
de taxas de juros corresponde a uma situação
excepcional, provavelmente gerado por uma alta taxa
de inflação, que teve de ser combatida
é à manutenção de expectativas
inflacionárias e de indexação
nas mentes de gerações de aplicadores
e tomadores de recursos. Mas, passado um certo tempo,
alguns anos, quiçá, espera-se que as
taxas de juros voltem a patamares menores, palatáveis,
que motivem o uso crescente de empréstimos
e financiamentos para pessoas físicas e jurídicas.
__Efetivamente, ao analisar-se
o comportamento da inflação brasileira
no longo prazo, fica claro que sua trajetória
é de queda e descencionismo contínuos
desde 1993.
__Claro está,
existem altas e baixas inflacionárias, mas
a trajetória de queda de longo prazo se afirmou
e confirmou com a adoção do Plano da
URV de 1993, que sacou a “moeda podre do mercado”,
afetada por massacrante perda de poder aquisitivo,
inserindo em seu lugar a “moeda nobre”,
o real, que perdura até hoje e cuja manutenção
de poder aquisitivo é altamente satisfatória.
O advento do Plano Real em 1994 iniciou de fato um
novo ciclo monetário de longo prazo no Brasil,
no qual a inflação cedeu.
__O país viveu
seis anos inflacionários fatídicos,
no fim dos anos 80 e início dos anos 90. Neles,
atingiu-se e superou-se o milhar, com inflações
mais próximas de exercícios hiperinflacionários,
medidos pelo Índice Geral de Preços
– Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação
Getúlio Vargas, a saber: 1988 – 1037,56%;
1989 – 1782,89%; 1990 – 1476,71%, no fim
do governo Sarney. No ano de 1991, a inflação
despencou para 480,23%, como efeito do seqüestro
dos ativos financeiros dos brasileiros em 1990, num
intervalo curto e insignificante do governo Collor
de Mello. E então a inflação
descontrolada, movida a frouxidão monetária,
repicou, para atingir 1157,84% em 1992; um recorde
triste em 1993 de 2708,17% e 1093,89% em 1994.
__No meio dessa fase
complicada, a taxa de juros anual registrada pela
ANBID, da Associação Nacional dos Bancos
de Investimento e Desenvolvimento, batia recordes,
que denotavam a insegurança no macroambiente,
na política e na gestão macroeconômica,
a saber: 14.998,43% em 1989 e 3488,45 em 1993.
__De 1994 em diante,
a frouxidão e a indisciplina monetária
e fiscal, cederam lugar crescente para a disciplina
monetária; a disciplina, a responsabilidade
e o rigor fiscal; e momentâneas fases de realismo
cambial.
__Estas ações
mais enérgicas engrenaram, e geraram uma queda
clara tanto da inflação, quanto das
taxas de juros no longo prazo, em mais de dez anos.
Daí decorre que após o repique inflacionário
de 2002, no qual o IGP-DI culminou em 26,41% após
sete anos de preços em queda e índices
variados oscilando entre 1,70% e 19,98%, a inflação
voltou a cair.
__E melhor ainda, para
níveis cada vez mais próximos aos praticados
por países desenvolvidos, a saber: 7,67% em
2003; 12,14% em 2004 e 1,22% em 2005. Isto demonstra
que nesse triênio a contenção
monetária, o adiamento e a redução
do investimento público – pela simples
não execução de projetos –
o aperto no custeio público, a elevação
da carga fiscal e uma maior disciplina nas contas
do Estado, surtiu o efeito de desmontar as memórias
inflacionárias do passado e atrelar num patamar
baixo e historicamente dignificante a inflação
brasileira.
__Como reflexo e efeito
consistente destas ações, as taxas de
juros nominais também seguiram o movimento
de queda, acentuadamente, no plano geral. Acabou a
era dos terríveis 1000%. Mas não refletiram
uma diminuição de curto prazo confortável,
posto que no lugar de cair, subiram, a saber: em 2003,
a taxa ANBID alcançou os 16,34%; em 2004 foram
16,76%; e em 2005 18,39%.
__Naturalmente, atento
e cioso do combate inflacionário, o Banco Central
do país manteve as taxas de remuneração
do capital num patamar elevado, para girar a alta
dívida pública, que montou a um trilhão
de reais em 2005; controlar o consumo privado com
vistas a evitar uma pressão de demanda que
pudesse pressionar preços; e evitar movimentos
de importação de produtos financiados.
__As taxas da ANBID são
referenciais e naturalmente no mercado pode-se praticar
taxas diferentes, variadas, mais baixas ou bem mais
altas. Mas o que importa é que o nivelamento
das taxas ocorreu entre 2003/2005, indicando que o
ajuste macroeconômico lança os juros
a valores próximos, assim sucedendo em dezembro
de 2005 com a taxa overnight – 18,24%; a taxa
CDI Over – 18,15%; e a taxa ANBID – 18,39%.
__Portanto, segundo as
evidências e as tendências, dias bem melhores
virão para os tomadores de recursos e para
os devedores.
__Sinalizações
múltiplas de mercado sugerem este movimento
aparente. Entre elas, vale observar que em 10 de julho
de 2006, a taxa over anual para remunerar títulos
públicos federais foi de 15,22%, fornecendo
uma rentabilidade diária de 0,06% ao aplicador.
__No mercado futuro de
DI Over, as taxas mensais revelam queda, de tal sorte
que se apostava ficarem em 14,94% em agosto de 2006;
14,70 em setembro; 14,48% em outubro e 14,42% em novembro.
__Graduais, pequenas,
escalonadas, estas diminuições nas taxas
de juros são até tímidas. Muitos
analistas criticam esta diminuição dos
juros a conta gotas, próximo a um método
homeopático, que resulta numa severa carestia
de capitais, num prolongado sofrimento por postecipação
de consumo privado e num baixo PIB – Produto
Interno Bruto.
__Por outro lado, estas
taxas revelam que os juros seguem seu caminho de queda,
logo a atração pela demanda por capital
no futuro vai subir. Espera-se que estas quedas se
façam manifestar mediante taxas de juros menores,
a favor dos tomadores de crédito. Contudo,
isto não é tão simples e linear,
posto que a elevada carga fiscal, o ano político
e de decisões eleitorais, a expectativa de
definição de quem presidirá o
país por quatro anos, a elevada dívida
pública e as ineficiências sistêmicas,
como a do desperdício que consome 8% do PIB
do país, não permitem que as taxas caiam
conforme os desejos do consumidor.
__Destes movimentos e
tendências, conclui-se que embora exista uma
rigidez para baixo na conformação das
taxas de juros nominais e reais, e sejam estas altas
em face das taxas praticadas nos principais centros
financeiros do mundo, Nova Iorque, Londres e Tóquio,
onde os juros oscilam entre 4,5% e 0,25% anuais, a
baixa foi certa e acertada, mas continua aquém
dos interesses do consumidor final.
- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof.
Istvan Kasznar.
- Leia mais na Revista Financeiro, da ACREFI.
-
© Copyright IBCI e ACREFI 2002-2007 - All Rights
Reserved.
|