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– IBCI - O MERCADO DE CRÉDITO MUDA DE
FORMA MARCANTE ENTRE 2.002 E 2.006 E CRESCE EM 2.007
Por
Istvan Kasznar - PhD.
istvan@ibci.com.br
__É
objetivo macroeconômico de curto prazo obter
uma baixa taxa de inflação – que
mantem o poder aquisitivo da moeda e do rendimento;
assegurar boas taxas de crescimento do produto; e
formar reservas internacionais para dispor de poupanças
em divisas que garantam facilidade na realização
de transações com o exterior.
__A estabilidade macroeconômica
se consegue mediante políticas responsáveis,
ortodoxas e que geralmente sacrificam o consumidor.
Os ajustes podem ser dolorosos e demorados, gerando
como efeito indesejável baixo crescimento,
desemprego, alta carga fiscal e paradoxos, pois os
remédios macroeconômicos podem ter efeitos
paradoxais entre si.
__No Brasil, a estabilidade
foi aperfeiçoada e alcançada ao longo
de quatro anos sacrificados e penosos, entre 2.003
e 2.006. Em 2.002, a taxa de inflação
medida pelo IGP-M da FGV fechou em 25,31%; a taxa
de crescimento do PIB real foi de 1,92% e o país
fechou um acordo com o FMI – Fundo Monetário
Internacional, pois não tinha reservas e como
saldar suas dívidas com o exterior.
__Durante este quadriênio,
foi preciso adotar medidas duras, que minimizaram
o crescimento real do PIB, lançaram as taxas
de juros e a carga fiscal a níveis exorbitantes
e provocaram desemprego e empregos de baixa remuneração.
Em compensação, em fins de 2.006 obteve-se
uma taxa de inflação baixa, que é
benéfica a toda a população,
próxima dos 3,2.% pelo IGP-M e reservas internacionais
excelentes e elevadas, de US$ 78 bilhões.
__Um dos fatores determinantes
para a redução de sacrifícios
e mal-estares gerados pela política contencionista
monetária e fiscal dos anos 2.003 e 2.004,
sobretudo, e que favoreceu a população
em geral, foi a adoção maciça
de novas medidas de política de crédito,
que inovaram o mercado da pessoa física e geraram
alta satisfação.
__As taxas de juros mensais
no crediário chegaram a 11%, inibindo o consumo
e criando um perigoso grupo de superendividados, não
porque quisessem endividar-se, mas porque seus rendimentos
e capacitações financeiras não
acompanharam a súbita alta das taxas de juros.
__Numerosos consumidores
viviam pendurados no caro cheque especial.Quando,
em setembro de 2.003 estendeu-se o crédito
consignado aos trabalhadores atuantes na iniciativa
privada, que antes era um benefício exclusivo
dos funcionários públicos, que viam
empréstimos descontados em folha ou na pensão
das aposentadorias, criou-se uma medida democratizante
na oferta de crédito. As centrais sindicais
aplaudiram a regulamentação e o incentivo
do governo federal.
__Esta novidade pegou
e mudou profundamente as práticas de crédito.
Os juros começaram a cair; multiplicaram-se
os sorteios de prêmios; o dinheiro para a população
de renda entre 3 e 10 salários mínimos
começou a ampliar-se e ao prazos de pagamento
e quitação tornaram-se mais atraentes.
__O crédito consignado
democratizado deu ao consumidor inúmeras oportunidades
de aplicação e gestão financeira,
antes dormitando no limbo ou efetivados timidamente.
Entre essas novas vantagens, merecem consideração
o fato de que os trabalhadores e aposentados pegaram
o crédito consignado, que é mais barato
e quitaram dívidas que eram mais caras. Neste
sentido, fizeram um swap de passivos e se hedgearam
contra custos mais altos. Ademais, com menor inflação,
passaram a ver melhor suas condições
futuras de pagamento e compraram para consumir mais
e melhor.
__Para dispor de uma
medida da queda da taxa de juros ao consumidor pessoa
física, basta lembrar que em janeiro de 2.005
o empréstimo pessoal bancário médio
montava a 6,8% ao mês, caindo em março
daquele ano a 5,6% e em outubro de 2.006 era comum
negociá-lo à taxa de 4,2%. O crédito
consignado enquanto isto admitia taxas em torno de
2% a 3% ao mês, propostas originalmente pela
CUT, a Central única dos trabalhadores.
__Naturalmente, existem
boas razões para que a taxa do consignado seja
tão baixa e atraente. Como as financeiras e
os bancos descontam as prestações direto
sobre os salários e as pensões, o recebimento
é assegurado. Logo, a taxa de inadimplência
e a possibilidade de calotes é muito mais baixa.
A certeza do recebimento e da quitação
das dívidas permitem que o prêmio do
risco de não recebíveis bancários
caia e isto faculta ao sistema de crédito a
oferta de dinheiro mais barato.
__Atualmente, o crédito
consignado é um produto vital e estratégico
para as financeiras e os bancos. Trata-se da modalidade
que mais cresce. E é bem possível que
a demanda excitada em expansão mais do que
compense a queda das taxas de juros. Ou seja, os ofertantes
de crédito ganharão mais no volume de
crédito, do que apenas na taxa. Isto é
saudável para o Brasil, o mercado financeiro
e o público consumidor. Todos ganham.
__Outra medida inovadora
e na mesma linha foi adotada no dia 12 de setembro
de 2.006, que oferece modalidades diferenciadas de
empréstimos para a casa própria com
desconto feito em folha de pagamento. Este é
o crédito consignado de financiamento a imóveis
residenciais, permitido a servidores públicos
e trabalhadores ativos da iniciativa privada.
__Quem tomar, na qualidade
de mutuário, poderá comprometer até
30% de seu salário nas prestações
e optará por valores fixos ou variáveis.
No caso de ocorrer a perda de emprego, o que reduz
a renda e cria um risco de despoupança alto,
num país que tem gerado poucos empregos novos
e de alta renda, o mutuário poderá utilizar
parte do valor da rescisão para reduzir a sua
dívida, cujo teto também é de
30%.
__A estabilidade no emprego
é procurada pelo trabalhador. E há uma
percepção no Brasil de que o emprego
público é mais estável. Já
as empresas privadas podem falir e as maiores levam
vantagens sobre as menores. Desse modo, a probabilidade
de ser demitido em empresas menores é maior
e o sistema de crédito apura e sensibiliza-se
com esse dado.
__Os empregados de empresas
maiores, modernas, que são líderes de
mercado e investem na carreira de seus colaboradores,
encontrarão maiores facilidades para negociar
pacotes e ofertas com as financeiras e os bancos.
Uma terceira medida de bom teor é a liberação
de mais recursos para a produção de
material de construção civil e o financiamento
habitacional. A Caixa Econômica Federal terá
uma linha exclusiva para construtoras no volume de
R$ 4,5 bilhões até 2.007.
__Em que pese estas medidas
ainda não atenderem a verdadeira base da pirâmide
de renda, aquela população pobre mesmo
que só ganha abaixo de 3 salários mínimos,
onde se concentra o maior quinhão de moradores
que vivem em condições sub-humanas,
elas se dirigem corretamente à base dos mais
necessitados.
__Uma boa medida complementar
é a possibilidade de ampliar-se o sistema à
reforma das residências e à compra de
materiais de construção.
__Ademais, sem a TR –
Taxa Referencial dos financiamentos habitacionais
e sua eliminação, resultaria uma redução
de 20% nos custos contratuais. Se fosse tomado um
empréstimo de R$ 100.000,00 pelo sistema de
amortizações com prestações
decrescentes (Sacre) por 15 anos e juros de 12% anuais,
apenas a eliminação da TR criaria uma
economia de R$ 41.900,00 ao mutuário.
__Mediante um financiamento
de R$ 100.000,00 corrigido pela TR mais juros, o pagamento
total atinge R$ 230.187,39. Sem a TR, o custo despenca
para R$ 188.279,88, uma diminuição de
18,21% ou R$ 41.907,62 de economia pessoal.
__No caso da Tabela Price,
no qual o valor inicial das prestações
começa baixo e corrige-se com o passar do tempo,
um empréstimo parecido geraria uma cobrança
de R$ 240.197,40. Ao tirar a TR o dispêndio
vai a R$ 209.131,20, ou seja, 12,93% de desembolso
a menos, uma economia de R$ 31.066,20.
__As taxas de juros reais
ainda são elevadas no Brasil. Há espaço
para que elas caiam. Elas tenderam ao longo de 2.006
na direção certa, continuaram cedendo.
Em julho a taxa média para pessoas físicas
recuou 1,5% em relação a junho, para
54,31% anuais, a menor da série histórica
iniciada em julho de 1.994. Para pessoa jurídica,
a queda de 0,5% resultou em taxa anual média
de 28,33%. E o spread continuou recuando, para pessoas
físicas 0,9% no mês, para 39,7%, reforçando
a menor e mais barata série histórica
em 12 anos. O spread de empresas caiu de 13,62% para
13,44%.
__Neste ambiente positivo
e mais saudável, o volume de crédito
na economia alcançou R$ 668,72 bilhões
em julho de 2.006, o equivalente a 32,68% do PIB –
Produto Interno Bruto, o maior valor desde maio de
2.001. E o potencial de expansão do mercado
de crédito com a queda das taxas de juros é
imenso. Pode-se estimar que o endividamento pode evoluir
sem maiores percalços e riscos sistêmicos
a 40% do PIB.
__Este ambiente explica
porque se acredita que na esteira do crédito
consignado, da diminuição da taxa de
juros e da despencada da inflação, o
volume de crédito destinado a pessoas físicas
deverá superar o crédito às empresas.
Isto ocorrerá pela primeira vez na história
em 2.007. Vale lembrar que em 2.000 o empréstimo
ao consumidor era de R$ 54 bilhões enquanto
as empresas tomavam R$ 102 bilhões ou 88,88%
a mais de recursos.
__Em 2.006, o volume
de credito poderá igualar-se entre as duas
categorias: R$ 239 bilhões para indivíduos
e R$ 247 bilhões para empresas. Mas como as
micro e pequenas empresas não se beneficiaram
tanto do avanço de crédito e tiveram
a consolidação de seus impostos mais
uma vez adiada, para o segundo semestre de 2.007,
seus sonhos de expansão e formação
de poupança, gerador de maiores margens de
lucro e maior coragem para tomar créditos,
foi mais uma vez adiado.
__Estes fatos explicam
porque os bancos e as financeiras estão dando
atenção crescente, com serviços
qualificados, à pessoa física. O crédito
às pessoas físicas aumentou 23,43% até
agosto de 2.006, em 12 meses.
__Entre as diversas medidas
adotadas pelo mercado de crédito e que se fazem
sentir, merecem atenção o uso de critérios
de análise de crédito mais velozes e
flexíveis; o maior financiamento de bens, serviços
e impostos; a facilitação de operações
para clientes e não clientes; o aumento do
prazo de carência para veículos com 62
dias para começar a pagar; a expansão
do crédito especial para compras de presentes
no Dia das Crianças e no Natal, com desconto
progressivo a partir da sétima parcela; a pré-aprovação
de linhas de crédito com base na renda do cliente;
a contratação em agências ou direto
em caixas eletrônicos, por Internet e telefone
e a abolição da figura do avalista.
__O estímulo ao
crédito é salutar, com tanto que ofertante
e tomador adotem medidas cautelosas para evitarem
perdas advindas de endividamentos excessivos e incapacidade
de pagar.
- Este artigo foi cedido à ACREFI, pelo Prof.
Istvan Kasznar.
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